Rodrigo Conçole Lage
(UNISUL)
Resumo: O objetivo desse trabalho é traduzir o
artigo Mis Ideas Ortograficas, do
ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1956, no qual ele apresenta uma
justificativa das alterações ortográficas promovidas por ele em seus textos.
Palavras-chave: Juan Ramón Jiménez, tradução,
língua espanhola.
Introdução
Mis Ideas Ortograficas,
foi publicado inicialmente na revista portorriquenha Universidad, em 1953. Nele, o autor procura justificar as
alterações ortográficas que promoveu, com o objetivo de simplificar a escrita,
para que a língua escrita se aproximasse da falada. Utilizou-se nessa tradução
o texto inserido, por Francisco Marcos Marin, no artigo La fuente ortográfica de Juan Ramón Jiménez (Nuevas notas sobre la reforma del español
contemporáneo), 1986, p. 225.
Tradução
Minhas Idéias Ortográficas
Pedem-me
que escreva algo na Universidad sobre
minhas idéias ortográficas; ou, melhor dizendo, pedem-me que explique por que
eu escrevo com jota as palavras em ge, gi; por que suprimo os b, os p, em
palavras como oscuro[1],
setiembre, etc.; por que uso s em vez
de x em palavras como escelentísimo,
etc.
Primeiro,
por amor a simplicidade, neste caso, a simplificação, por ódio ao inútil. Logo,
porque acredito que se deve escrever como se fala, nunca como se escreve.
Depois, por antipatia ao pedante. Que
necessidade há de colocar um trema sobre o u para escrever vergüenza? Ninguém diz excelentísimo, nem séptima, nem transatlántico,
nem obstáculo, etc. Antigamente, a interjeição "Oh" se escrevia sem "h", como eu a escrevo hoje, e
"hombre" também. E para que
hombre precisa de um h; nem outro hembra? Esse h acrescenta algo à mulher
ou ao homem? Além disso, na Andaluzia o jota se reforça muito e eu sou andaluz.
Mas,
para além destas afirmações sensatas, quando eu era criança, no final do século
XIX, um grupo de escritores ilustres promoveu este hábito de simplificação
ortográfica. O dicionário que eu sempre usei e ainda uso é o Diccionario enciclopédico de la lengua
española, com todas as vozes, frases, provérbios e locuções usadas na
Espanha e na América espanhola, na linguagem coloquial antiga e moderna; as das
ciências, artes e ofícios; as notáveis da história, biografia e todas as que
são próprias das províncias espanholas e americanas, por uma sociedade de
pessoas especiais nas letras, nas ciências e nas artes, os senhores Dom Augusto
Ulloa, Félix Guerrero Vidal, Fernando Fragoso, Francisco Madinabeitia, Isidoro
Fernández Monje, José Plácido Samson, José Torres Mena, Juan Creus, Juan Diego
Pérez, Luis de Arévalo, Ventura Ruiz-Aguilera e revisado por Dom Domingo Fontán,
ex-diretor do Observatorio Astronómico de
Madrid, professor de matemáticas sublimes[2]
e autor da Carta de Galicia[3];
Dom Facundo Goñi, catedrático de Filosofia e Direito Internacional do Ateneo científico y literario de Madrid;
Don Joaquín Avendaño, inspetor general das escolas do Reino; Dom José Amador de
los Rios, indivíduo da Academia de la
Historia e catedrático de Literatura da Universidad
de Madrid; Don Juan Bautista Alonso, antigo advogado do Colejio de Madrid; Dom Patricio
Filgueira, engenheiro de minas; Dom Pedro Mata, caedrático da Facultad de Medicina de Madrid; Dom
Rafael Martínez, doutor em Medicina e regente em Botânica; Dom Tomás García
Luna, catedrático do Ateneo. E organizado
por Dom Nemesio Fernández Cuesta[4].
Nele[5]
estão escritas, como eu as escrevo, todas as palavras que eu escrevo como nele estão
escritas. Este dicionário foi de um de meus avôs e nele encontro sempre tudo o
que não consigo encontrar em nenhum outro dicionário enciclopédico. Sempre
viajou comigo e o uso como livro de cabeceira. Eu li o “Fígaro” pela primeira vez em uma preciosa edição que ainda possuo,
impressa em Paris com essa mesma ortografia que eu utilizo. Um tio meu, homem
de grande cultura e incansável viajante, e que me legou uma parte de sua bela
biblioteca, escrevia assim e me pediu que o fizesse; e como me agradava, eu fiz.
De modo que, como me acostumei a escrever assim desde criança, me pareceu absurdo
escrever de outra maneira. Meu jota é mais hijienico[6]
do que o molengo g, e eu me chamo Juan Jiménez, e Jiménez vem de Eximenes,
onde o x se transformou em jota com maior razão. De qualquer forma, escrevo assim
porque eu sou muito teimoso, porque me diverte ir contra a Academia e para que
os críticos se incomodem comigo. Espero, portanto, que meus inquisidores terão
ficado convencidos, depois de ler-me, com minha explicação e, além disso, para
mim, o capricho é a coisa mais importante em nossas vidas. Emerson havia
escrito fancy[7] na
porta de seu quarto de trabalho.
ANEXO
MIS IDEAS ORTOGRÁFICAS
Se
me pide que escriba algo en "Universidad" sobre mis ideas
ortográficas; o, mejor dicho, se me pide que esplique por qué escribo yo com
jota las palabras en ge, gi; porqué suprimo las b, las p, etc., en palavras
como oscuro, setiembre, etc.; por qué uso s en vez de x en palabras como
escelentísimo, etc.
Primero,
por amor a la sencillez, a la simplificación en este caso, por odio a lo
inútil. Luego, porque creo que se debe escribir como se habla, en ningún caso
como se escribe. Después, por antipatía a lo pedante. ¿Qué necesidad hay de
poner una diéresis en la u para escribir vergüenza? Nadie dice excelentísimo,
ni séptima, ni transatlántico, ni obstáculo, etc. Antiguamente la esclamación
"Oh" se escribía sin "h", como yo la escribo hoy, y
"hombre" también. ¿Y para qué necesita hombre una h; ni otra hembra?
¿Le añade algo esa h a la mujer o al hombre? Además en Andalucía Ja jota se
refuerza mucho y yo soy andaluz.
Pero,
aparte de estas sensateces, cuando yo era niño, en los fines del siglo XIX, un
grupo de escritores distinguidos promovieron esta costumbre de simplificación
ortográfica. El diccionario que yo usé siempre y sigo usando es el Diccionario
enciclopédico de la lengua española, com todas las voces, frases, refranes y
locuciones usadas en España y las Américas españolas, en el lenguaje común
antiguo y moderno; las de ciencias, artes y oficios; las notables de historia,
biografía y todas las particulares de las provincias españolas y americanas, por
una sociedade de personas especiales en las letras, las ciencias y las artes,
los señores don Augusto Ulloa, Félix Guerrero Vidal, Fernando Fragoso,
Francisco Madinabeitia, Isidoro Fernández Monje, José Plácido Sansón, José
Torres Mena, Juan Creus, Juan Diel.go Pérez, Luis de Arévalo, Ventura
Ruiz-Aguilera, y revisado por don Domingo Fontán, ex-director del Observatorio
Astronómico de Madrid, catedrático de matemáticas sublimes y autor de la carta
de Galicia; don Facundo Goñi, catedrático de Filosofía y Derecho Internacional
del Ateneo científico y literario de Madrid; don Joaquín Avendaño, inspector
jeneral de las escuelas del Reino; don José Amador de los Ríos, individuo de la
Academia de la Historia y catedrático de Literatura de la Universidad de Madrid;
don Juan Bautista Alonso, antiguo abogado del Colejio de Madrid; don Patricio
Filgueira, injeniero de Minas; don Pedro Mata, catedrático de la Facultad de
Medicina de Madrid; don Rafael Martínez, doctor en Medicina y rejente en
Botánica; don Tomás García Luna, catedrático del Ateneo. Y ordenado por don
Nemesio Fernández Cuesta. En él están escritas, como yo las escribo, todas las
palabras que yo escribo como en él están escritas. Este diccionario era de uno
de mis abuelos y en él encuentro siempre todo lo que no encuentro en ningún
otro diccionario enciclopédico. Siempre ha viajado conmigo y lo uso como libro
de cabecera. Yo leí a "Fígaro" por vez primera en una preciosa
edición que aún poseo, impresa en París con esta misma ortografía que yo uso.
Un tío mío, hombre de gran cultura y viajero incansable, y quien me legó una
parte de su hermosa biblioteca, escribía así y me pidió que yo lo hiciera; y
como me gustaba, lo hice. De modo que, como me acostumbré a escribir así desde
niño, me pareció absurdo escribir de otra manera. Mi jota es más hijiénica que
la blanducha g, y yo me llamo Juan Jiménez, y Jiménez viene de Eximenes, donde
la x se ha transformado en jota para mayor abundamiento. En fin, escribo así
porque yo soy muy testarudo, porque me divierte ir contra la Academia y para
que los críticos se molesten conmigo. Espero, pues, que mis inquisidores habrán
quedado convencidos, después de leerme, con mi esplicación y, además, de que
para mí el capricho es lo más importante de nuestra vida. Emerson había escrito
fancy en la puerta de su cuarto de trabajo.
Referências:
MARIN, Francisco
Marcos. La fuente ortográfica de Juan Ramón Jiménez (Nuevas notas sobre la
reforma del español contemporáneo). LEA:
Lingüística Española Actual, Madrid, v. 8, n. 2, 1986, p. 219-228. Disponível
em: <http://www.lllf.uam.es/~fmarcos/articulo/86LEAJRJ.pdf>.
[1] O
uso do itálico é do tradutor. Por se tratar de um texto sobre a ortografia do
espanhol optou-se pela não tradução dos termos utilizados como exemplo.
[2]
Matemáticas Sublimes é como então se denominava a Análise Infinitesimal.
[3]
A Carta Geométrica de Galicia é um
mapa físico da Galiza, sendo o primeiro produzido com medições matemáticas.
Começou a ser produzido em 1817, e sua conclusão se deu em 1834.
[4]
Francisco Marcos Marin (1986, p.225) aponta para o fato do poeta, ao elaborar
esta lista, ter escrito uma paródia do argumento de autoridade.
[5]
Francisco Marcos Marin (1986, p.226) afirma que não existe nenhum dicionário
que siga totalmente sua ortografia, mas que existe um no qual ele se inspirou:
o Diccionario enciclopédico de la lengua
española editado na Biblioteca
Ilustrada de Gaspar y Roig, Madrid, 1853.
[6]
Jogo de palavras no qual, seguindo sua ortografia, Ramón escreve hijiénica em lugar de higiénica, substituindo o g pelo jota.
[7]
Em inglês, no original. Utilizado no sentido de capricho, extravagância.