Rodrigo Conçole Lage
(UNISUL)
Resumo: O objetivo desse artigo é
apresentar a vida e a obra do poeta espanhol Juan Ramón Jiménez, Nobel de
literatura de 1956, mostrando suas influências e os diferentes caminhos que seguiu
ao longo do tempo, em sua arte. Discutimos a questão da publicação de livros
inéditos nos últimos anos, questões referentes às traduções e a fortuna
crítica.
Palavras-chave: Juan Ramón Jiménez,
poesia espanhola, literatura moderna.
1- Biografia de Juan Ramón Jiménez
O poeta Mantecón nasceu no dia 23 de dezembro de 1881, em Moguer. Filho
de Víctor Jiménez y Sáenz del Prado e de Purificación Mantecón López-Parejo. Em
relação a sua infância “os primeiros anos de Juan Ramón, ele os viveu em
Moguer, em duas casas. A primeira, onde nasceu, ficava na rua de La Ribera. Nela viveu até os quatro ou
cinco anos” (FRANZONI, 2006, p. 18). Nesse período, entre quatro e cinco anos,
“freqüentou a “Miga”, o “Jardim da
infância”” (FRANZONI, 2006, p. 21). Posteriormente, “dos cinco aos doze anos,
Juan Ramón, viveu na casa da rua Nova, que ficava mais para o interior e,
portanto fora do ruidoso e azul bairro dos marinheiros” (FRANZONI, 2006, p.
18). Em 1887 é matriculado no Colegio de
Primera y Segunda Enseñanza de San José. Apesar dos negócios da família não
estarem em boa situação, quando nasceu, eram bem diversificados.
Como representantes da Companhia Transatlântica, eram consignatários de
buques. Possuíam negócios de minas em Cádiz. Em Moguer possuíam bodegas para a
fabricação de vinhos e conhaques. Eram donos de fazendas, onde cultivavam
vinhedos e olivais (FRANZONI, 2006, p. 15-16).
Aprendeu francês muito cedo e, como “seu tio Eustaquio deixara muitos
livros franceses, entre eles, antologias de poesia, onde figuravam versos de
Goethe e Heine” (FRANZONI, 2006, p. 16), isso lhe permitiu ter o primeiro
contato com ela, com autores que o influenciariam profundamente. Uma
característica de sua infância é o fato de que “tinha uma horrível aversão à
fealdade” (FRANZONI, 2006, p. 22-23), algo que estará sempre presente em sua
vida e em seus textos. Em 1891 é aprovado no exame para o ensino médio do Colégio San José, que era incorporado ao Instituto Provincial, de Huelva. Em 1893, entra para o Colegio de San Luis Gonzaga, Puerto
de Santa María, obtém o título de Bachiller
en Artes, em 1896. Retorna a Moguer, para as férias, e lá inicia um namoro
com Blanca Hernández. Neste mesmo ano vai para Sevilha, pois seu pai desejava
que estudasse direito, e lá começa a estudar pintura. “Enquanto fazia o curso
preparatório para os estudos jurídicos, conheceu pintores “coloristas”, mas não
estudava nada” (FRANZONI, 2006, p. 27). A ida à Sevilha será um momento
importante para sua formação:
Ali descobriu Bécquer, conheceu Osuna, o notável folclorista e outros
homens de letras. Freqüentava o Ateneo, onde passava dias e noites lendo,
escrevendo e escutando. Conheceu a obra de Rosalia de Castro e Curros Enríquez,
Mosén, Jacinto Verdaguer, Vicente Medina e Manuel Paso (FRANZONI, 2006, p. 28).
Porém, acabará abandonando a pintura e começará a escrever. Nesse período,
veio a se apaixonar por Rosalina Brau, veio a se descuidar dos estudos, o que
fez com que fosse reprovado. Ficou doente e, em 1897, regressou a Moguer. Sobre
suas leituras nesse período Maria Auxiliadora Franzoni (2006, p. 28) afirma que
lia muito:
Lamartine, Musset, Victor Hugo, Goethe, Schiller, Heine, Validasa, o
Romancero, poetas espanhóis como Rosalia de Castro, Manuel Curros Enríquez,
Vicente Medina, Jacinto Verdaguer, Juraci Maragall e Augusto Ferrán. Lia também
traduções em prosa da poesia árabe-andaluza. Encheu-se de um romantismo teatral
e absurdo em relação a tudo: Bécquer, Blanca, Manuel Paso...
Entre aqueles que o influenciaram nesse período podemos acrescentar “Francisco
Villaespesa, Díaz Mirón, Casal, Silva, Gutiérrez Nájera, Lugones, Valencia,
Gonzáles Prada, Jaimes Freyre, Nervo, Tablada, Leopoldo Diaz sobretudo Rubén
Darío” (FRANZONI, 2006, p. 31). Aparecem, nesse período, seus primeiros poemas (FRANZONI,
2006, p. 29). Em 1900, a convite de Villaespesa e de Rubén Darío, se muda para
Madrid e publica seus primeiros livros, Ninfeas
e Almas de violeta. Lá, veio a
conhecer “grandes poetas e escritores do momento, como Darío, Benavente,
Valle-Inclán, Baroja, Azorin” (FRANZONI,
2006, p. 34). Nesse período escreverá também poemas anarquistas, influenciado por
Ibsen e pelo fuzilamento dos anarquistas condenados no famoso processo de
Montjuich.
Ao mesmo tempo em que participou intensamente da vida literária de Madri
logo se aborreceu, pois “lhe repugnava o ambiente das tertúlias vaidosas –
cheias de vinho, enfumaçadas pelos cigarros e charutos – dos cafés. Os
maneirismos e os excessos modernistas do momento. Duas semanas em Madri e esta
lhe parecia podre” (FRANZONI, 2006, p. 36), o que fez com que retornasse a Moguer.
Neste mesmo ano, publica os livros Almas
de violeta e Ninfeas e passa por
momentos muito difíceis. Seu pai, paralítico por causa de um infarto ocorrido
em 1898, vem a falecer e sua família perde todo o patrimônio. Em 1901 é
internado com depressão em um sanatório de Burdeos, na França, mas reside com a
família do médico que o tratava, Dr. Lalanne (FRANZONI, 2006, p. 37-38).
Esse período na França - de 1901 a princípios de 1902 - foi importante
para Juan Ramón e para sua poesia. A primeira etapa da estadia, ele a passou em
Burdeos. Esteve também, em períodos maiores ou menores, em vários sanatórios e
lugares de descanso, ao sudoeste da França. Foi a Lourdes e a Orthez – o
povoado de Francis James – de cuja obra entusiasmou-se. Descobriu Aniel em
Lausanne. Frequentou livrarias em Burdeos. Inspirado por tudo isso sentiu
necessidade de escrever novos poemas (FRANZONI, 2006, p. 38).
Nesse período ocorre uma nova identificação com a poesia espanhola, os
poetas simbolistas franceses fizeram parte de suas leituras “e pela primeira vez leu Leconte de Lisle e
também os italianos D’Annunzio, Carducci, Pascoli” (FRANZONI, 2006, p. 38). Com
saudades da Espanha retorna a Madrid, indo para o Sanatorio del Rosario. Em 1902, publica o livro Rimas, e Arias Tristes, em 1903. Participa da fundação da revista literária Helios. Lá, conhece Louise Grimm de
Muriedas, uma norte-americana casada com um rico espanhol, Antonio Muriedas
Manrique de Lara. Eles se conheceram “seguramente em alguma das reuniões
sociais (nos “salões galantes”, como eram chamados) que Juan Ramon frequentou em
Madrid” (INFANTE, 2010, p. 89, tradução nossa). Ramon se apaixona e os dois
mantém uma volumosa correspondência, entre os anos de 1907-1912. Essa relação
será muito importante, pois graças a ela terá seu primeiro contato com os
poemas líricos em inglês, principalmente os autores do romantismo. Outro fato a
ser destacado nessa nova etapa em Madrid, que teve um importante papel em sua
formação, é a participação na vida cultural da cidade, contribuindo para que se
tornasse anticlerical (exceto no que se referia a Institución):
Através de seus amigos médicos passou a freqüentar a Institución Libre de Enseñanza, fundada pelos
krausistas. Ali pôs-se a par das novas idéias científicas e filosóficas. Leu
Nietzche (sic), Loisy, Shelley, Browning, Shakespeare. Assistiu conferências,
concertos, veladas. Participou de jantares, chás, exposições e excursões.
Discutia-se Kant e Goethe, ouvia-se a Giner e a Cossío. Cultivava-se a fundo o
intelecto. Com a Institución aprendeu
um novo conceito de ascetismo que já exercia à moda dos jesuítas. Consistia
esse novo conceito no cultivo profundo do ser interior aliado ao convencimento
de uma simplicidade natural de viver (FRANZONI, 2006, p. 40).
Durante algum tempo transita entre Madri e Moguer retornando a terra
natal, mas voltando em 1904 a Madrid. Após
uma breve estadia, retorna a Moguer em 1905, mas no outono deste mesmo ano já
está de volta a Madrid. Contudo, termina por retornar a Morgue, onde ficou
entre 1905-1912. Ali se insere no “mundo de pureza de Moguer, não sentindo
falta dos literatos de Madri. Sentia-se limpo, sonhava alto, tocava o mesmo céu
com as mãos. Mas correspondia-se com vários amigos poetas, literatos e
intelectuais. Jovens da região iam a ele com suas poesias” (FRANZONI, 2006, p.
46). Em 1912, decide retornar definidamente para Madrid, pois a ruína
financeira de sua família se agravava e havia a “necessidade de acompanhar de
perto os processos judiciais que corriam em Madri, e resgatar” (FRANZONI, 2006,
p. 47). Esse período marca o início da fase, que alguns classificam como
podendo ser a mais importante, que vai de 1912 a 1936. Ramon conhece Zenobia
Camprubí Aymar, em 1913, e se apaixona profundamente por ela. No outono é
convidado a residir na Residencia de
Estudiantes (onde estreitou sua amizade com José Ortega y Gasset).
Quando, em 1913, com 32 anos, convidado a viver na Residencia de Estudiantes – e isso representava o reconhecimento
oficial da sua obra poética por parte dos setores culturais de Madri – Juan
Ramón desfrutou de privilégios muito de acordo com sua sensibilidade. Foi
rodeado de comodidades práticas e líricas. Somente ele podia colher flores do
jardim para enfeitar seu quarto. (FRANZONI, 2006, p. 22)
Isso lhe permitiu fazer “amizade com pessoas ilustres, como Ramón de
Basterra, poeta e tradutor; com o filósofo Eugenio d’Ors; com o músico Oscar
Esplá, com Federico de Onís – catedrático das universidades de Oviedo y
Salamanca; e com Miguel de Unamuno” (FRANZONI, 2006, p. 96-97). Foi a partir da
publicação de Platero e Eu em 1914
que passou a ser conhecido como Juan Ramón Jiménez. Foi nomeado diretor das Ediciones de la Residencia de Estudiantes,
em 1914, por seu amigo Jiménez Fraud, devido a “excelente apresentação para uma
série de publicações de Azorin, Unamuno, Antonio Machado e outros” (FRANZONI,
2006, p. 97). Traduz para ela a Vida de
Beethoven de Romain Rolland. Com a ajuda de Alberto Jiménez Fraud traduz o Hino a beleza intelectual, de Shelley,
que será publicado em 1915.
Uma nova etapa de sua vida se inicia com a viagem aos Estados Unidos,
Zenobia e sua mãe haviam partido em 1915; em fevereiro de 1916 vai se encontrar
com elas, em Nova Iorque. Em março ele e Zenobia se casam “na igreja católica
de Saint Stephen, n° 142, a este da rua 29, de Nova Iorque” (FRANZONI, 2006, p.
99). Nos EUA, teve contato com novos poetas americanos “como Robert Frost,
Vachel Lindsay, Edgar Lee Masters, Edna St. Vincent Millay, Edwin Arlington
Robinson” (FRANZONI, 2006, p. 123), que o impressionaram. Jiménez também
“aumentou seus conhecimentos sobre autores de língua inglesa, lendo a crítica
de Poe, alguma coisa de Keats e a crítica de Tagore sobre Ratan Devi,
pseudônimo de Coomaraswamy” (FRANZONI, 2006, p. 123-124).
Ainda em 1916 retornam para a Espanha, ficam algum tempo em Moguer, mas
vão para Madrid ainda em 1916, ali residem por 20 anos. Escreveu e publicou,
entre 1916-1923, os livros Eternidades
(1916-1917), Piedra y Cielo
(1917-1918), Poesia (1917-1923) e Belleza (1917-1923). Escreve muitos
textos em prosa; funda algumas revistas literárias, entre 1901 e 1927, e
termina por fundar sua própria editora, a Biblioteca
de Índice. Analisando sua produção posterior pode se dizer que “o que Juan
Ramón escreveu entre 1916 e 1936 merece ser observado já que mostra claramente
os elementos de um novo estilo” (FRANZONI, 2006, p. 122). Nesse período
publicou muitas traduções de Tagore e traduziu textos do prosista, dramaturgo e
poeta irlandês John Millington Synge. Terá, posteriormente, um grande
envolvimento com a juventude e com os movimentos de renovação poética, possuindo
grande influência na chamada Generación
de 27[1].
E, entre 1925 e 1935, publica os Cuadernos,
onde se encontram a maior parte de seus textos. Em 1930 conhece a escultora e
escritora Margarita Gil Roësset, amiga de Zenobia, que se apaixona por ele. Apesar
de rejeitada, ela não desiste e continua tentando conquistá-lo durante anos, até
que se suicida em 1932 (algo que o marcará profundamente). A partir de 1931, sua
esposa apresenta os primeiros sintomas de câncer.
Jiménez não chegou a se envolver politicamente com nenhuma das facções
existentes, antes da Guerra Civil Espanhola, o que gerou muitas críticas ao
poeta. Mas, com a guerra, em 1936, a situação ficou insustentável e se viu
obrigado a deixar o país. Vai inicialmente para os EUA, posteriormente segue
para Porto Rico e Cuba, onde ficará até 1939, exercendo numerosas atividades,
retornando depois para os EUA. Vão então para a Flórida e, em 1942, se mudam
para Washington, residem, com pequenas interrupções, até 1951 – durante esse
período foi internado algumas vezes por motivos de saúde. Em 1949, deu uma
série de conferências na Argentina, apedido da revista Anales de Buenos Aires. Por fim, regressaram a Porto Rico. Com
todos os problemas continuou escrevendo. Em 1953 doa sua biblioteca para a Universidad de Puerto Rico. Os anos de
1954 e 1955 foram muito difíceis devido à doença da esposa e a depressão do
poeta. Em 1956, é agraciado com o prêmio Nobel de literatura, pelo livro Platero e Eu, mas a alegria do poeta
dura muito; sua esposa Zenobia falece três dias depois, uma grande perda da
qual não irá se recuperar. Por fim, Juan Ramón falece no dia 29 de maio de
1958.
2- Sua obra
Ela é composta de poemas, textos em prosa, artigos, prólogos, traduções,
antologias de outros poetas (que organizou), textos de conferências, anotações
de aulas e cartas; sem contar os livros e revistas que editou. Do ponto de
vista quantitativo:
A obra do poeta é vasta. Foram mais de cinquenta anos dedicados à sua
construção. Em torno de seis mil poemas e dez mil aforismos, escritos com os
requisitos necessários para a prática de qualquer arte [...] (FRANZONI, 2006,
p. 8).
Mas, para ser mais preciso, ela tem em torno de 6,700 poemas, o que faz
dele, segundo Ramírez Almanza, “o segundo escritor espanhol mais profícuo
depois de Lope de Veja” (EFE, 2004, tradução nossa). Desde o período em que a
tese foi defendida, em 2006, parte dos livros inéditos citados pela autora (FRANZONI,
2006, p. 90) começaram a ser publicadas: Libros
de Amor, em 2007; La Frente Pensativa,
em 2009; Arte Menor, em 2011; e Apartamiento, em 2013 (BERASÁTEGUI,
2007; ORS, 2009; EFE, 2010; DÍAZ, 2103). Sobre a questão dos inéditos é
importante salientar que:
No escritório de Juan Ramón, a obra inédita enchia caixas e caixas sem
conta. Naquele tempo o poeta queria viver oitenta anos, escrever até os setenta
e publicar nos dez seguintes. Quando terminava um livro, o deixava descansar.
Depois de tê-lo deixado dormir por muito tempo, o depurava e o reduzia à décima
parte: aí a obra ia para a imprensa (FRANZONI, 2006, p. 106).
Nos últimos anos tem sido divulgada a descoberta de outros inéditos que,
pela falta de uma bibliografia completa, não podemos afirmar com certeza se
estão ou não fora dessa contagem foram. Dentre elas podemos citar a de 2006, quando
são publicados 11 poemas inéditos no livro El
Ladron de Agua (AFP, 2006); e temos a descoberta dos inéditos, Primavera e Tarde (EFE, 2006). Em 2009 temos três. É descoberto o manuscrito de
Hasta tu Nombre (CORROTO, 2009);
temos 6 inéditos publicados em Odas
Castas y Libres (AGENCIAS, 2009); 12 são publicados em Balada del Jardín Eterno (EFE, 2009). Em 2013 (DÍAZ, 2013) foi
publicado o livro Idilios (98 poemas,
sendo 38 inéditos). A existência de tantos inéditos se justifica pelos seguinte
motivo:
O poeta desenvolvia uma veia satírica amarga e dura, caricaturizando seus
concidadãos com manha. Revela desgosto para com os vícios de alguns – e decide
nem publicar essas críticas para não ofendê-los. Cultiva apurada consciência
social. Há toda uma obra inédita que Juan Ramón escolheu não publicar porque
conta aspectos mais íntimos de sua vida. Por respeito a Moguer e ao seio
familiar decidiu não publicar versos tão francamente descritivos de suas
relações carnais. E quanto aos poemas de temas religiosos, evitou publicá-los
para não se expor ao proselitismo religioso (FRANZONI, 2006, p. 89).
Temos em 2006 a publicação da importante coletânea Música de Otros. Traducciones y Paráfrases (BLESA, 2007), uma
coletânea bilíngue que reúne todas as traduções feitas pelo poeta (com exceção
das Rabindranath Tagore, em que Zenobia Camprubí o auxiliou), organizada por Soledad
González Ródenas. Escreveu muitos prólogos, mas não existem maiores informações
nos textos consultados (exceto o fato de que os escreveu, pelo menos para
livros de escritores espanhóis e cubanos). Organizou uma antologia de poetas
porto-riquenhos e uma de poetas cubanos (La
poesia Cubana de 1936), quando esteve nos dois países. Muitas das
conferências foram publicadas por Francisco Garfia no livro El Trabajo Gustoso. E, em 1962, foi
publicado, no México, o livro El
Modernismo, Notas de un Curso, fruto de seus anos como catedrático. Além
disso, novos volumes de sua correspondência foram publicados. Em 2006 saiu o
primeiro (AGUILAR, 2006) e, em 2012 (OJEDA, 2012), saiu o segundo volume (mais
de 500 cartas, sendo 236 inéditas).
E há de se acrescentar a obra em prosa: Palabras románticas, Baladas
para después e Meditaciones líricas.
Essa obra em prosa foi recolhida, postumamente, em Primeras Prosas (PALAU DE NEMES, 1974, p. 461) e toda ela
complementa um aspecto da sensibilidade juanramoniana que domina a produção
dessa época em Moguer: a obsessão com o amor sensual de caráter erótico (FRANZONI,
2006, p. 90).
Foi anunciada, para 2013 (DÍAZ, 2013), a publicação do livro inédito Vida. Contudo, se vemos a publicação de
muitos inéditos neste decênio, ele tem sido quase que totalmente ignorado no
Brasil. Platero e Eu foi o único
livro publicado no Brasil. Assim, Jiménez se encontra entre os ganhadores do
Nobel de Literatura que tiveram apenas um livro publicado (como, entre outros, Theodor
Mommsen, Bjørnstjerne Bjørnson, Frédéric Mistral, Giosuè Carducci e Rudolf
Eucken). No que se refere à fortuna crítica do autor, ela é pouco extensa e
alguns trabalhos importantes não estão disponíveis na internet. O número de
artigos e resenhas encontrados é ínfimo (vide bibliografia). Temos, por outro
lado, um número pequeno de teses e dissertações, mas relativamente grande se
comparado a alguns ganhadores do Nobel de Literatura bem mais traduzidos, como
Naipaul (Lage, 2013, p.1). Infelizmente,
alguns trabalhos importantes não estão disponíveis na internet. Como, por exemplo,
a dissertação de mestrado de Tatiana Francini Girão (USP – 2002), O deus gastado da nossa história e a recriação
da totalidade. A expressão metafísico-poética em Dios deseante y deseado, de
Juan Ramón Jiménez; e a dissertação de mestrado Espacio: inventário e invenção, de Augusto Massi (1992 – USP).
No que se refere às traduções no Brasil[2]
temos, por Carlos Drummond de Andrade, na antologia Poesia Traduzida, o poema Vendaval.
Na advertência da primeira edição de Poemas
traduzidos se referiu as “de três ou quatro poemas de Juan Ramón Jiménez” (MASSI,
2011, p. 8). Temos muitos poemas traduzidos por Manuel Bandeira, na coletânea Poemas Traduzidos (1945); sendo que
cinco deles foram incluídos posteriormente em Meus poemas preferidos. São eles:
«A Menina Idílio», «Pavilhão», «A Viagem Definitiva», «Deus do Amor», «O
Tesouro», «Olhos de Ontem», «De Volta», «A Castigada», «A Paz», «Tu», «Meu
Sítio», «As Ilusões», «Jogo», «A Ausente», «Grácil», «A Noite», «Universo»,
«Virtude», «Deserto e Mar», «Tua Nudez», «O Estudante», «A Única Rosa»,
«Contigo, Comigo», «O Perigo», «Minha Cabra», «Primavera», «Fim de Inverno»,
«Branco», «Agridoce», «Glória Baixa», «O Único Amigo» y «Canção de Canções»
(SILVA, 2011).
Temos publicadas três traduções de Platero
e Eu (IGOA, 2011, p. 245-26). A primeira tradução é de Athos Damasceno, integral,
publicada em 1953 e 1960, pela editora Globo. Em 1969, a editora Delta a
republicou (acrescida dos cinco poemas incluídos em Meus poemas preferidos). Ela foi reeditada pela Opera Mundi, em
1971 e 1973. Uma nova edição, pela editora Globo, foi lançada em 1984. A Rio
Gráfica, em 1987, a republicou. E, por fim, temos em 1997 uma última reedição,
pela editora Globo. A segunda tradução
integral é a de Marília Cecília Pereira, sem publicação, para sua dissertação
defendida em 2006 na USP, Sob o olhar
transcriativo da tradução: outras leituras de Platero y Yo. Por fim, a
terceira tradução, desta vez parcial, foi a de Monica Stahel, publicada pela
Martins Fontes em 2010 e 2011. Existe uma tradução do poema Espacio, feita Augusto Massi para sua
dissertação de mestrado, mas não há nenhuma referência de que ela tenha sido
publicada.
Em Portugal, o autor também foi pouco traduzido. Existe a tradução de Platero e Eu e a de uma Antologia Poética, ambas por José Bento;
e uma segunda de Platero e Eu, por Luís
Lima Barreto. No que se refere à fortuna crítica do autor em Portugal não temos
nenhuma indicação, pois não se encontrou na internet nenhum texto acadêmico,
nem menções a dissertações e teses.
3- A arte poética de Juan Ramón
Vamos agora examinar sua arte poética, como ele compõe seus poemas,
algumas características de seu trabalho e alguns detalhes sobre as diferentes
etapas em que foi sendo construída. Sobre o fazer poético de Juan Ramón nós
podemos dizer que se divide em dois momentos:
Primeiro via tudo, via muito e via sem nenhuma ilusão. Segundo –
recriava, reformava ou até deformava essa realidade que via e então a colocava
no papel, sob a forma de poesia. Poesia que não somente se fixa no bonito e
elogiável mas que, principalmente é capaz de transformar o cruel em belo. Nisso
reside a essência de sua arte. (FRANZONI, 2006, p. 8).
Outro aspecto importante é a constante reescrita. Esse processo em parte
é fruto do desejo de aperfeiçoá-los. Assim, costumava se referir a suas
publicações como rascunhos grosseiros (lit. "borradores silvestres"), consequentemente, ele procurava
torná-los melhores. Posteriormente, a ela será fruto da “necessidade imperiosa
de refazer o anterior para dar-lhe um novo sentido. Às vezes até se desfigura
por completo o que havia sido simples intuição de um momento de emoção ou
beleza, para dar-lhe a conotação filosófica que não tinha” (GICOVATE, 1962, p.
247, tradução nossa). A questão da linguagem é outro ponto importante e se
manifesta de diferentes formas. Como exemplo, temos a forma como se utiliza dos
diminutivos “usado, às vezes, como veículo de sua ternura pelo frágil
(crianças, pássaros, flores, etc.) e outras, como elemento plástico que remete
a lo pequeno, ou seja, praticamente
uma compaixão pelo que é pequeno e toda a subjetividade dessa pequenez” (PEREIRA,
2006, p. 75). Jiménez, segundo Francisco Marco Marin (MARIN, 1986), produziu
uma verdadeira reforma na língua espanhola. Ele não só “começa a criar suas
próprias palavras quando as que conhecida não são suficientes” (FRANZONI, 2006,
p. 124), como procurou simplificar a língua. O poeta, no artigo Mis Ideas Ortográficas (IN: MARIN, 1986,
p. 225, tradução nossa), publicado em 1953, na revista portorriquenha Universidad explica:
Pedem-me que escreva algo na Universidad
sobre minhas idéias ortográficas; ou, melhor dizendo, pedem-me que explique por que
eu escrevo com jota as palavras em ge, gi; por que suprimo os b, os p, em
palavras como oscuro, setiembre, etc.; por que uso s em vez de
x em palavras como escelentísimo,
etc.
Primeiro, por amor a simplicidade, neste caso, a simplificação, por ódio
ao inútil. Logo, porque acredito que se deve escrever como se fala, nunca como
se escreve. Depois, por antipatia ao pedante.
Podemos então dizer que, a forma com que veio a escrever seus poemas, o
influenciou na forma com que passou a ver seu próprio idioma e o levou a
modificá-lo. O início dessa reforma linguística se dá no início da segunda
etapa, em 1916 (MARIN, 1986, p. 226), mas ela alcança seu ápice a partir de
1917 (FRANZONI, 2006, p. 124). Do ponto de vista temático teremos nas
diferentes etapas a forte presença de temas como a passagem do tempo, a
natureza, a solidão, a tristeza, a melancolia, a morte, a mulher, a dualidade,
o crepúsculo, o sexo e a morte. Vemos também que “muitas das estrofes de Poemas Mágicos y Dolientes descrevem
estampas de pintores antigos e modernos” (FRANZONI, 2006, p. 81). A presença da
pintura, e as referências a pintores e seus quadros, serão uma constante.
4- As etapas em que se divide sua produção
Podemos dividi-la em diferentes etapas. O próprio Juan Ramón Jiménez “dividiu
sua obra em duas metades: uma, até 1916, e a outra, de 1916 em diante”
(FRANZONI, 2006, p. 184). Porém a crítica adota uma divisão em três etapas, que
se subdividem. Teríamos primeiro a etapa
sensitiva (1898-1916); a etapa
intelectual (1916-1936); e a etapa
suficiente o verdadera (1937-1958). Em cada etapa iremos encontrar mudanças
formais; havendo quem identifique uma evolução formal – verso metrificado e
rimado - verso livre - prosa (HAZAZ, 1992, p. 105) –, interpretação passível de
críticas; mudanças estilísticas, provenientes das diferentes influências recebidas
ao longo do tempo, e temáticas. Sendo impossível abordar tais mudanças de forma
completa e, intendendo que a divisão tripartite as especificam de forma mais
precisa, vamos adotá-la, abordando os principais pontos de cada uma delas, em
complemento ao que já foi assinalado em sua biografia. Contudo, tais divisões
não eliminam as continuidades ali existentes, elas não podem ser vistas como
seções incomunicáveis entre si. Elas são uma forma de marcar as tendências que
prevalecem em diferentes períodos de sua vida.
4.1- A etapa
sensitiva (1898-1916).
Alguns situam seu término em 1915. Alguns dividem essa etapa em dois
períodos (o primeiro termina em 1908, e o segundo vai até 1916), outros em
três. Ela então se dividiria em um
primeiro período de aprendizagem onde ainda teríamos a presença do romantismo e
de um modernismo canônico (que iria aproximadamente até 1900); em um segundo
período (de caráter heterogêneo indo do romantismo ao modernismo, passando pelo
simbolismo, que se situaria entre 1903 e 1907); e o terceiro período que
coincide com seu retorno a Moguer (de 1906 até 1912) e se caracteriza pela
busca de sua própria voz poética (até 1915). Alguns defendem a idéia de um
quarto período, que se caracterizaria pela depuração de sua poesia e terminaria
em 1916. Temos inicialmente o predomínio do verso curto, octossílabo, e no
período simbolista, e modernista, o predomínio do verso alexandrino.
Seu primeiro livro manuscrito, Nubes
foi posteriormente dividido, dando origem aos livros Ninfeas e Almas de Violeta.
Vemos em Almas a influencia de poetas
do pós-romantismo (não excluindo a influência dos românticos, como Heine, Jacint
Verdaguer, Manuel Curros Enríquez, Leopardi, Shelley). Já em Ninfeas, vemos a presença do primeiro
modernismo espanhol, tanto na sua temática ligada ao simbolismo decadentista, na
presença do colorismo, quanto por meio de algumas características típicas do
movimento. “Eram elas: (1) o uso das letras maiúsculas, para dar mais ênfase
àquilo que se queria salientar como importante; (2) o uso de uma métrica pouco
castiça; (3) de uma frase sobrecarregada; (4) de versos musicais; (5) de
“colorismo”” (FRANZONI, 2006, p. 62). É importante assinalar que, mesmo estando
entre os modernistas, ele ainda carrega influências do romantismo. A separação
entre as diversas correntes literária nem sempre ocorre de forma clara. “Traços
do romantismo do “mal-do-século” misturam-se, nesse primeiro modernismo espanhol,
que também os apresenta, e bem enfeitados, às vezes, com traços parnasianos”
(FRANZONI, 2006, p. 63). Essa heterogeneidade, normalmente classificada como
sendo o segundo período, corresponderia então a um terceiro período.
Examinar sua obra nos permive enxergar os caminhos que a literatura
seguia naquele momento e, ao mesmo tempo, entender a forma como constrói seu
próprio estilo. Vemos como “o modernismo, em Juan Ramón, desprende-se desde o
início da visão idealizadora e até ingênua do romantismo em relação à natureza
e adota a visão que todo esteta da decadência adotou: a de que a natureza é poderosa
e perigosa, embora bela” (FRANZONI, 2006, p. 63). Com a publicação de Rimas, em 1902, começa a seguir outros
caminhos, influenciado pelo simbolismo francês com o qual teve contato quando
ali esteve. Vemos também as “influências de Martí, Gutiérrez e Néjera. Há,
pois, em Rimas, temas exóticos que
estão mais próximos do modernismo hispano-americano de Darío do que de qualquer
escrito anterior de Juan Ramón” (FRANZONI, 2006, p. 65). A descoberta da poesia
de Miguel Unamuno, em 1907, será outro momento importante na evolução de sua
arte. Do ponto de vista temático,
sua doença exercerá um importante papel nos testos entre 1906 e 1908, nos quais
a doença e os efeitos do tratamento serão uma presença constante. De qualquer
forma, entre 1911 e 1913, o poeta seguirá novos caminhos:
Toda a poesia que ele escreveu em La
Sodedad sonora, Laberinto e Melancolia, é um diário de um processo
psíquico de individuação. É o testemunho de uma profunda crise interior do
poeta em que ele, ao que parece, evolui no seu caminho da busca e do encontro
com Deus. Esse encontro se realiza primeiro, através do encontro com a
natureza; segundo através do encontro consigo mesmo e terceiro, através do
encontro com o próximo. Pode-se dizer que, nesse estágio de sua poesia e vida,
ele se acha na segunda fase, isto é, no encontro consigo mesmo (FRANZONI, 2006,
p. 88).
É preciso dizer que Melancolia
(1912) e Laberinto (1913) são livros
de um erotismo de caráter simbolista; assim como Libros de Amor. Nos últimos anos dessa etapa trabalhará como editor
na Residencia de Estudiantes,
trabalho que voltará a exercer em diferentes ocasiões e com maior amplitude,
editando livros e revistas. Com Sonetos
Espirituales (1914-1915) e Estío
(1915) temos uma nova evolução, marcada pelo uso do soneto, onde eles abrem o
caminho para a nova etapa.
4.2- A etapa intelectual (1916-1936)
Alguns denominam essa etapa de poesía
desnuda – seja pelo abandono das referências externas para que seu lirismo
interior aflorasse, seja pela constante reescrita dos poemas. A contínua
reelaboração de sua produção anterior é motivada por um desejo de perfeição e
por uma obsessão estética que o guiava. Assim, o intimismo e o anseio pela
beleza guiam sua produção. A segunda etapa se caracteriza pelo intelectualismo,
se iniciando com a publicação do livro Diario
de un Poeta Recién Casado. Nela a busca da beleza, acessível somente pela
inteligência, está unida a um processo de abstração no qual se abre mão das
circunstâncias espaço-temporais. No que diz respeito ao aspecto forma, o uso do
verso livre domina essa etapa, apesar de não ter se iniciado nela como alguns
defendem (HAZAS, 1992). Vemos nessa etapa:
Uma prosa sucintamente carregada de áspero humor. Tudo muito
característico desse novo estilo criado por Juan Ramón em o Diario mas que sempre transpirou de sua
obra, desde o início. Todos sabemos da fama de Juan Ramón de “mala lengua”. De resto o discurso
sardônico, carregado de rústica franqueza, sem nenhuma caridade e boas maneiras
é o discurso do esteta da decadência contra tudo aquilo que seja contrário à
beleza idealizada e que ele vê na poesia e na arte geral (FRANZONI, 2006, p. 230).
O amor por Zenobia e o papel que a viagem aos EUA exercerá nessa nova
etapa, devido a forte impressão que lhe causaram os novos poetas americanos,
são dois elementos fundamentais para o nascimento desta nova etapa. Nos EUA,
[...] foi testemunha da grande renovação da poesia em língua inglesa – e
essa nova poesia coincidia em muitos aspectos com a sua própria. Em 1916 o
movimento “imaginista” estava em seu apogeu. Os “imaginistas” repudiavam a
poesia fácil e sentimental do século XIX, proclamavam a necessidade de se usar
uma linguagem comum e, sobretudo, a palavra exata; queriam ritmos novos,
liberdade na seleção dos temas e propunham-se, sobretudo, criar imagens
concisas, precisas e claras (FRANZONI, 2006, p. 123).
Eles tinham em comum o fato de terem “abandonado o molde e o adorno, para
escrever uma poesia natural, livre de toda sujeição, sustentada levemente por
palavras exatas e imagens precisas” (FRANZONI, 2006, p. 123). Há uma significativa
presença de elementos orientais que
afetam a poesia de Juan Ramón de três modos diferentes. O primeiro é o
exotismo de motivos orientais, que veio no calor do Modernismo no qual Juan
Ramón educou-se em sua primeira época. O segundo – o haikaísmo – foi em Juan
Ramón quase que como um prelúdio da moda haikaísta. E o terceiro – o budismo
Zen – dura a partir de sua segunda época, do Diario de un poeta reciencasado até a final, quer dizer, até o
livro Dios deseado, deseante
(FRANZONI, 2006, p. 135-136)
No que se refere à Zenobia, ela será a musa inspiradora do poeta.
Contudo, é preciso salientar, que “é Zenobia quem está ali, mas como enfatiza
várias vezes, é a Zenobia que nem ela mesma e nem ninguém sabe que existe”
(FRANZONI, 2006, p. 120). Nessa etapa, devemos destacar sua produção como
editor de livros e revistas.
4.3- A etapa suficiente o
verdadera (1937-1958)
Também chamada de metafísica (BARROSO, 2002). Ela corresponde ao período
em que se exilou (1936-1958) – em Porto Rico, Cuba e EUA –; se caracteriza pela
ânsia de eternidade. Sobre seu caráter metafísico podemos dizer que existe
[...] uma busca ontológica que se revela nos poemas como as relações
entre identidade e alteridade, essência e aparência (substância e forma), tempo
e espaço, movimento e permanência (ser e estar), e que se resolve como
plenitude, encontro, totalidade. Sendo assim, os poemas de Dios deseado y deseante nos revelarão uma poética metafísica, algo
que podemos nomear como expressão metafísico-poética, sob o signo da ruptura e
da transcendência [...] (BARROSO, 2002).
Quando esteve em Porto Rico organizou algumas antologias e deu início a
uma nova faceta que terá grande importância nessa etapa, a sua atuação como
conferencista. Ele ficará alguns anos sem publicar poemas. Só voltando a
publicá-las a partir de 1942 (tendo retomado sua escrita em 1940), com o livro Españoles de Três Mundos. Alguns poemas
publicados nesse período foram escritos antes do exílio, muitos escritos no
período em que esteve nos EUA. Uma nova etapa se inicia com o livro La Estación Total con las Canciones de la
Nueva Luz (1946). Nele vemos a presença de certo misticismo, que se torna
central nessa etapa, onde ocorre um encontro com o deus dentro de si. O poeta
experimenta uma espécie de “revelação” que o leva a esse encontro, que não se
dá dentro de uma confissão religiosa, mas no que denomina religión inmanente. Esse processo o leva a uma nova concepção de
mundo, e também a uma nova poética. Há uma mudança na íntima comunicação que mantém
com a natureza, na busca do absoluto, que o leva a um deísmo de caráter
panteísta. A nostalgia de Moguer se torna um tema frequente em muitos dos
poemas dessa etapa. Outra característica que merece destaque, dessa nova
poética, é a utilização de muitos neologismos. Alguns de seus poemas mais
importantes foram escritos nessa etapa e os críticos consideram que, com Espacio (1941) sua produção poética
atingiu o ápice.
Conclusão
Vimos como a poesia teve um papel central na vida do poeta. Ao mesmo
tempo como, direta e indiretamente, ela foi
um reflexo de sua vida, suas leituras, seus anseios e inquietações. Com a
publicação dos muitos inéditos seus textos terá que ser reavaliada, em todos os
sentidos, abrindo novas possibilidades para os que queiram estudá-la.
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[1]
Uma série de poetas espanhóis
que se deram a conhecer em 1927 quando participaram, no Ateneo de Sevilla, para
a comemoração do aniversário de 300 anos da morte de Luis de Góngora. Muitos
escritores estiveram envolvidos sendo que, normalmente, se destacam: Jorge
Guillén, Pedro Salinas, Rafael Alberti, Federico García Lorca, Dámaso Alonso,
Gerardo Diego, Luis Cernuda, Vicente Aleixandre, Manuel Altolaguirre e Emilio
Prados.
[2]
O poeta, médico e tradutor,
Antonio Nunes, traduziu alguns
de seus poemas, que estão disponíveis na internet, em seu blog. Ver em: <http://astripasdoverso.blogspot.com.br/search/label/JUAN%20RAM%C3%93N%20JIM%C3%89NEZ>