O CINEMA-DENÚNCIA DE LÚCIA MURAT



Patricia Maria dos Santos Santana
(Doutoranda UFRJ/ Bolsista CAPES)



Resumo: Este artigo procura analisar a posição política feminino-feminista nos filmes Que Bom Te Ver Viva (1989) e A memória que me contam (2012), ambos com a direção de Lucia Murat, dentro da perspectiva do cinema-denúncia.  Os citados filmes procuram mostrar os relatos das personagens principais, num misto de realidade e ficção, fazendo uma amostragem do que foi viver e ser militante política em uma das épocas mais duras que o Brasil já teve, historicamente falando. 
Palavras-chave: Ficção. Denúncia. Cinema.


Abstract: This article aims at analyzing the political feminine-feminist position of the movies Que Bom Te Ver Viva (1989) and A memória que me contam (2012), both directed by Lucia Murat, considering the perspectives of the denounces-cinema. The mentioned movies show the reports of the main characters, in a mixture of fact and fiction, preparing a sampling of how was to live and be a political militant in one of the hardest moments which Brazil ever had, historically speaking.
Key Words: Fiction. Denounce. Cinema.




A mulher pública constitui a vergonha, a parte escondida, dissimulada,  noturna,  um    vil   objeto,  território     de passagem,  apropriado,  sem   individualidade    própria.
(Michelle Perrot)

Verás que um filho teu não foge à luta
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
(Duque Estrada, Hino  Nacional  Brasileiro)


Introdução

            Entre 1964 e 1985, o Brasil viveu sob um forte regime de ditadura militar, iniciado no governo do presidente João Goulart, derrubado por um golpe de Estado. A classe média e a Igreja Católica temiam o avanço do movimento comunista, sistema no qual o presidente buscava bastante apoio. Latifundiários ficaram preocupados com a reforma agrária. Empresas multinacionais se sentiram prejudicadas com os limites impostos à remessa de lucros para o exterior. Os militares também passaram a desaprovar as mobilizações populares. Nesse cenário, o golpe contra João Goulart veio dos segmentos mais conservadores. A intervenção militar obteve apoio civil, inclusive no Congresso Nacional, que oficializou um golpe contra um presidente constitucionalmente eleito. Na época, muitos civis pensaram que o golpe seria algo efêmero, resumindo-se ao mero afastamento de João Goulart. Mas o poder só foi repassado aos civis muito tempo após, ou seja, exatamente vinte e um anos depois.
            É demasiadamente importante analisar este período da história do Brasil, principalmente no viés da luta de diversas guerrilheiras que, por fazerem parte do gênero dominado, raramente tiveram a oportunidade de mostrar o quão forte se deram suas participações na luta nos anos de chumbo. Este artigo busca analisar os filmes Que Bom Te Ver Viva (1989) e A memória que me contam (2012), ambos sob direção de Lucia Murat. O primeiro filme se constitui através do depoimento de oito ex-presas políticas aliados a interpretação de Irene Ravache que funciona como o alter ego de Murat, também ex-guerrilheira. O segundo nos mostra a história de Ana, internada entre a vida e a morte em um hospital vinte anos após a sua fase de lutas, com seus amigos narrando os acontecimentos de sua vida na sala de espera.
            As mulheres guerrilheiras quebraram, então, muitos tabus pertinentes à época, visto que elas ousaram sair de uma condição oprimida e privada de gênero e entrar em um mundo predominantemente masculino, público, fazendo, assim uma quebra de tabus nos dois sentidos. Essas companheiras carregam com elas, além das lições da guerrilha, outras lições somente possíveis dentro da ótica feminina. Ao recontar a sua própria história de vida e a história de mulheres que participaram ativamente do processo de luta, Lucia Murat frisa como essa luta foi importante para a nossa sociedade e não deve ser considerada insignificante ou invisível. O contar para não morrer e não esquecer frisando um não ao esquecimento, muitas vezes exigido socialmente, é também a questão dessa análise.
                                                                                                              
1.                   Pela ótica de gênero

Lucia Maria Murat Vasconcelos nasceu no Rio de Janeiro, em 29 de outubro de 1948. Filha de médico, ela cresceu em Copacabana e em 1967 entrou para a Faculdade de Economia da UFRJ.  Pertenceu ao Diretório Acadêmico envolvendo-se tanto que já em 1968 foi presa no congresso da União Nacional dos Estudantes, em Ibiúna. Ao sair passou a integrar a Frente Operária da organização denominada MR-8, atendendo pelo codinome Margô. Na organização desempenhava vários papéis entre os quais o de panfletagem em fábricas com apoio armado, expropriações de carro e levantamento de informações para efetivação das ações do grupo. Foi casada com Cláudio Torres, guerrilheiro que participou do sequestro do embaixador americano, em setembro de 1969. Após o sequestro, Lucia Murat entrou para clandestinidade. Foi presa em 31 de março de 1971 e durante sua prisão no DOI-CODI foi torturada chegando a ficar mais de 12 horas no pau-de-arara, o que fez com que quase perdesse a perna direita, além de ter ficado com complicações nos dentes. Deixou a cadeia em 1974 e começou a trabalhar como jornalista no Jornal do Brasil, todavia, como era ainda ditadura, ela foi demitida. Trabalhou no jornal Opinião, passando a ser perseguida pelo Comando de Caça aos Comunistas, o CCC, através de cartas. Apenas com o passar dos anos é que Murat conseguiu se firmar.  Toda a experiência da prisão e a violência que sofreu nela  marcaram profundamente sua vida, de forma que seu trabalho como cineasta foi muito influenciado por estes acontecimentos.
            Que Bom Te Ver Viva foi um dos primeiros filmes realizados no Brasil pós-abertura política, que traz para a tela de cinema a luta armada, a tortura e os assassinatos através de depoimentos reais. O filme apresenta o depoimento de oito ex-presas além da interpretação de Irene Ravache, que funciona como um alterego da diretora.  Por vez, o drama A memória que me contam implica numa memória mediada. Num primeiro momento, a questão remete à personagem Ana, interpretada por Simone Spoladore, guerrilheira nos anos de chumbo, que agora agoniza numa cama de hospital. Ela nunca é vista no presente, apenas na memória de seus amigos, que na sala de espera aguardam os acontecimentos e relembram seu passado de luta. Sua melhor amiga era Irene (Irene Ravache), cineasta que está fazendo um filme sobre os anos sessenta. Assim, afirmamos que no primeiro e no segundo filmes Lucia Murat está representada na personagem de Irene Ravache e a personagem Ana do segundo filme é uma homenagem direta da diretora à amiga Vera Silvia Magalhães, conforme as próprias palavras da cineasta:

A primeira vez que pensei em fazer esse filme foi há mais de 20 anos. Vera Silvia Magalhães, a quem o filme é dedicado, ainda era viva. E como sempre acontecia quando ela ficava doente, o grupo de amigos que vinha da época da militância estudantil dos anos 60 se reunia na antessala do hospital à espera de notícias.
Vera esteve doente inúmeras vezes. Além dos surtos em que sempre recordava as cenas de tortura, teve dois cânceres e muitos problemas decorrentes da sua saúde fragilizada. ¹
          
Com esse filme, Lúcia Murat revisita o primeiro longa-metragem e parece que a escolha de Irene Ravache foi proposital.  Irene, a personagem de Ravache em A memória que me contam, pode muito bem ser vista como a mesma pessoa daquele outro filme vinte e cinco anos depois, agora com mais experiência e mais desiludida, em tempos de atrofia política. Em A memória que me contam, Lúcia faz um retrato daqueles que no passado lutaram contra a ditadura e, atualmente, pertencem a uma classe média conformada em viver sem grandes ilusões ou propósitos.
            Gênero pode ser definido como um modelo que revela as conexões entre relações de produção, processos políticos e concepções populares sobre uma dita “natureza humana”. A discussão sobre a participação diferenciada e desigual da mulher na vida social, com o não reconhecimento do seu papel político na sociedade e a exclusão dos espaços públicos, não anulam os efeitos políticos de suas atuações nas relações sociais, demonstrando que em momentos de crise temos espaço para a ação e concorrência das mulheres no âmbito social. No Brasil dos anos 60, o que encontramos é uma diferenciação de gênero muito conservadora e definida pelos moldes patriarcais. As mulheres estavam submetidas a um processo de socialização bastante desigual e hierárquico (ROSALDO, 1979). No processo social de construção da realidade, os papéis masculinos e femininos são social e culturalmente definidos. Cada gênero possui um código de conduta específico. No caso das sociedades contemporâneas, essa assimetria hierárquica emerge em uma perspectiva que incorpora o conflito e o poder nas relações sociais.
            A partir dessa desproporcional configuração sociocultural é que começaram, no fim dos anos sessenta, os estudos sobre gênero, procurando abordar a problemática da diferença entre homens e mulheres, retirando da categoria sexo grande parte de seu poder de explicação e generalização, promovendo o questionamento dos pressupostos e propostas de universalização da dominação sob a noção de indivíduo. Com isso, a categoria gênero tornou-se um referencial adequado para uma aproximação da realidade social que se constitui basicamente entre o pressuposto e a existência de uma hierarquia na qual a mulher ocupa uma posição inferior. Um elemento fundamental para redefinir a estratificação de gênero foi a possibilidade de acesso das mulheres a um sistema educacional de segundo e terceiro graus que estavam em expansão. É possível afirmar que essa alteração da posição feminina no campo social, com consequentes reflexos nas relações entre os gêneros, ocorreu em interação com outras mudanças socioeconômicas do período: “as mulheres entraram na universidade porque a classe média teve acesso a ela, verificando-se, portanto, um entrelaçamento das categorias de gênero e classe” (TRIGO, 1994, p.92). No começo da década de 1970, as mulheres já constituíam metade da população estudantil do ensino médio (sendo a escolha tipicamente feminina o Curso Normal). Entretanto, a geração que entrou para a universidade a partir de meados dos anos 60 foi protagonista de um conjunto de mudanças econômicas, políticas, nos códigos de comportamento e nas relações entre os gêneros, que sinalizavam o esgotamento de certos pressupostos e a transição para um novo período. A partir da configuração geral dos espaços masculinos e femininos, encontra-se o campo de interação social com sua multiplicidade de planos e possibilidades, espaço de permanente transformação da identidade dos indivíduos. 
            Foi exatamente isso que fizeram as mulheres que militaram contra a ditadura brasileira, pois, ao alterarem sua atitude em relação a sua posição de gênero dentro do sistema sociocultural, também reconstruíram seu papel como atores políticos, em oposição ao código de poder imposto (FERREIRA, 1996).  A juventude participante da revolução era formada por um conjunto de pessoas com idades que variavam entre 16 e 29 anos e que compartilharam e viveram a mesma conjuntura histórica. Junto com o projeto de derrubar o regime também estava o de revolucionar os costumes, os valores e as relações sociais e afetivas, que deveriam ser mais igualitárias. Tais propostas eram partilhadas também por militantes que não participaram desse tipo de luta. Apesar da grande variação na idade dos militantes, experiências comuns foram compartilhadas. Militantes vivenciaram acontecimentos que estruturaram uma época e que forneceram, aos que nela viveram, representações que orientaram comportamentos. Embora compartilhados, os fatos também são vividos diferentemente e, por isso, as intensidades desses mesmos fatos marcam de forma desigual os sujeitos, conforme valores e crenças dos grupos aos quais esses sujeitos pertencem. A participação das mulheres na militância política pode vir a ser tomada como um indicador das rupturas iniciais que estavam ocorrendo nos papéis tradicionais de gênero. Apesar de não tão grande em números quanto a participação dos homens, a participação delas não pode ser considerada insignificante. De acordo com o levantamento feito Estado Maior do Exército a respeito dos presos em todo território nacional temos como resultado que, de pouco mais de quinhentos presos, 56% eram de estudantes ou pessoas que há pouco tempo deixaram a área estudantil. Do total de presos, 20% eram mulheres, sendo que no Rio de Janeiro essa porcentagem atingia 26%. A maioria das militantes eram estudantes ou tinham formação superior. Integrantes das denominadas camadas médias intelectualizadas, tinham, possivelmente, condições para desempenhar papéis mais destacados nas formulações políticas. Portanto, embora as mulheres tivessem condições intelectuais, faltava a elas condições de gênero (ABREU, 1997). A participação minoritária das mulheres na militância era acompanhada pelo fato de que raramente ocupavam lugares de comandos nas organizações. Daí também concluirmos que ao discutir a participação da mulher nos movimentos de guerrilha, indica que a presença feminina nesses movimentos reflete um processo de libertação da mulher, na medida em que tais grupos proporcionaram uma contestação à ordem estabelecida em todos os níveis. Apesar delas nunca terem tocado nesse tópico ao longo da luta de esquerda, Ridenti (1990, p. 114) nos afirma que a participação das mulheres na militância política contra o Regime Militar iniciou o rompimento do “estereótipo da mulher restrita ao espaço privado e doméstico, enquanto mãe, esposa, irmã e dona de casa, que vive em função do mundo masculino”.  Afinal, como nos conta Vladimir Safatle (2012, p. 74), “mais do que um projeto claro, as revoluções foram o ato violento de abertura de novas sequências (...)”.
Os filmes de Murat são uma espécie de exaltação aos que sobreviveram, principalmente, uma eloquente exaltação às mulheres guerrilheiras, reconstruindo pelo recurso da construção da memória sobre esse período um resgate de suas lembranças e, com elas, suas identidades, em uma espécie de realização pessoal ou busca pela cidadania perdida, pelas identidades deixadas.  Para Coutinho (2008, p. 50-51) “a cidadania é a capacidade conquistada por alguns indivíduos, ou (no caso de uma democracia efetiva) por todos os indivíduos, de se apropriarem dos bens socialmente criados, de atualizarem todas as potencialidades de realização humana abertas pela vida social em cada contexto historicamente determinado”.  Assim, através dos depoimentos das mulheres dos filmes e através de si mesma Murat espera estar dando continuidade e expansão a um processo de resgate de identidades e cidadanias. Nesse processo, as ex-militantes surgem como agentes históricos e sociais que possuem como referência um dado grupo, participando de um determinado projeto coletivo. Pessoas com biografias próprias, sempre em construção, que fizeram escolhas e sofreram suas consequências em dado momento histórico.

2.                  Dois filmes e uma perspectiva: a denúncia como alvo

            Em Que bom te ver viva, o primeiro filme, através do testemunho, vemos uma estratégia dos sobreviventes na construção de sua dor pessoal como denúncia pública. O filme não se refere ao desconhecimento da prática da tortura ou do que ela foi, mas à indiferença em face do sofrimento dos sobreviventes e dos familiares daqueles que a sofreram.  Descrever significa, assim, reequilibrar os domínios do público e do privado no processo de transmissão sobre a tortura. O filme é a forma de mostrar à sociedade que os chamados “terroristas”, na verdade, deveriam ser mais conhecidos como “os resistentes” de um sistema. A atividade narrativa, na tentativa de colocar em palavras experiências pelo relato, tem sua importância na vida daqueles que participaram do processo de luta. Pelo tempo presente fazemos uma elaboração dos acontecimentos passados, para que o próprio presente consiga ser vivido. Esse cinema-denúncia permite recolher a experiência traumática. O trauma é uma situação extremamente violenta que cria uma ferida psíquica. Trata-se, para Freud, de uma experiência que não pode ser totalmente assimilada enquanto ocorre (SELIGMANN-SILVA, 2006). Quem passa por esse tipo de situação perde a consciência de si. A recordação vem, pois o sujeito sente necessidade de entender a causa da violência. Fazer uma narrativa é uma maneira de tentar organizar a situação traumática. Não por acaso, a cena traumática é narrada em forma de lembrança. O trauma é algo que retém o tempo. 
            Outro fator importante na narrativa de Murat relaciona-se com a violência sexual que sofreu e que muitas mulheres receberam na ditadura.  Susan Brownmiller (1975) concluiu que o estupro não é um crime relacionado a sexo ou desejo sexual. O estupro refere-se a uma relação de poder, pois se trata de um processo de intimidação pelo qual os homens mantêm as mulheres em um estado de medo permanente. A violência doméstica se enquadra nesse raciocínio, pois mulheres são tratadas como propriedade masculina e essa relação se manifesta por meio do espancamento e do estupro marital. Estupros em casos de escravidão e de guerra (inclusive religiosa) também se encaixam nessa teoria, pois são formas de subjugar por meio da violência sexual.  E o conceito de feminicídio (homicídio de mulheres que não obedecem aos padrões sociais) claramente deriva dessa observação de que a cultura legitima a violência contra mulheres.  Em todos esses exemplos fica nítida essa relação de poder: as mulheres não possuem vontade própria, sendo classificadas como seres inferiores e propriedades dos homens. E passados mais de quarenta anos do golpe militar no país, muitas mulheres que foram vítimas de estupro na ditadura romperam o silêncio para denunciar essa agressão. Murat, ao prestar depoimento à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, falou das torturas a que foi submetida durante a ditadura militar, o que levou a cineasta por diversas vezes às lágrimas. O plenário lotado da Assembleia Legislativa do Rio também se emocionou com o relato:

A tortura era uma prática da ditadura e nós sabíamos disso pelo relato dos que tinham sido presos antes. Mas nenhuma descrição seria comparável ao que eu vim a enfrentar. Não porque tenha sido mais torturada do que os outros. Mas porque o horror é indescritível.
(...)
Em março de 1971, eu estava junto com Maria Luiza Garcia Rosa num quarto que alugávamos num apartamento no Jacarezinho. Eles chegaram de noite e nem houve condições de esboçar uma reação. Imediatamente fomos separadas, me jogaram num carro e me enfiaram um capuz.  Começaram a me bater dentro do carro. Quando cheguei no DOI-CODI, não sabia onde estava, só fui descobrir mais tarde, que era o quartel do Exercito localizado na Rua Barão de Mesquita, que existe até hoje.  Rapidamente me levaram para a sala de tortura.  Fiquei nua, mas não lembro como a roupa foi tirada. A brutalidade do que se passa a partir daí confunde um pouco a minha memória. Lembro como se fossem flashes, sem continuidade. De um momento para outro, estava nua apanhando no chão. Logo em seguida me levantaram no pau de arara e começaram com os choques. Amarraram a ponta de um dos fios no dedo do meu pé enquanto  a outra ficava passeando. Nos seios, na vagina, na boca. Quando começaram a jogar água, estava desesperada e achei num primeiro momento que era para aliviar a dor. Logo em seguida os choques recomeçavam muito mais fortes. Percebi que a água era para aumentar a força dos choques. Isso durou horas. Não sei quantas. Mas deve ter se passado mais de dez horas. De tempos em tempos, me baixavam do pau de arara. Lembro que um médico entrou e me examinou. Aparentemente fui considerada capaz de resistir, pois a tortura continuou.
(...)
Eu ficava nua, com um capuz na cabeça, uma corda enrolada do pescoço passando pelas costas até as mãos, que estavam amarradas atrás da cintura. Enquanto o torturador ficava mexendo nos meios seios, na minha vagina, penetrando com o dedo na vagina, eu ficava impossibilitada de me defender, pois se eu movimentasse meus braços para me proteger eu me enforcava e instintivamente voltava atrás. Ou seja, eles inventaram um método tão perverso em que aparentemente nós não reagíamos como se fôssemos cúmplices de nossa dor.  Isso durava horas ou noites, não sei bem.  Era considerado um método de aniquilamento progressivo. E foi realmente o período em que eu mais me senti desestruturada, mais do que em toda a loucura dos primeiros dias Porque você já sabe o que é a tortura, e ela parece que nunca terá fim. (MURAT, depoimento à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, 2013 – grifo nosso) ²


            Bem como o silêncio de Murat, o silêncio de muitas mulheres se rompeu depois de anos, talvez pelo fato de, por muito tempo, apenas as queimaduras e os golpes serem classificados como formas de torturas típicas. No filme Que Bom Te Ver Viva, a ditadura ainda era muito presente e Murat chegou a receber ameaças por telefone. No segundo filme, A Memória Que Me Contam, o espírito de denúncia permanece e tem um olhar contemporâneo, muito embaraçado a um tempo onde o pensamento de esquerda parece perder sua força e filosofia.  A denúncia recairia bastante nessa obrigação de ex-combatentes recontarem a história para não deixarem que a mesma fique num esquecimento social. Outra questão é o sentimento de culpa que há no filme trazendo personagens que precisam lidar com isso por terem sobrevivido à tortura. Eles estão perdendo alguém que, simbolicamente, é um marco. Os personagens precisam viver com o fato de terem sobrevivido e isso passa a ser um problema para quem fica.

3.                  A necessidade de contar para não deixar morrer o que passou

Na perspectiva da memória, ambos os filmes são tratados. Existe a memória oficial, aquela contada pelos vencedores da história, e a memória coletiva que, nesse caso prioriza os vencidos, não sendo conhecida por todos, apenas por um grupo. Essa memória é a que precisa ser exaltada e mostrada, na necessidade de escovar a história a contrapelo (BENJAMIN, 1986). É uma chamada ‘memória subterrânea’ (POLLAK, 1989) que evidencia a pluralidade das reconstruções do passado. Sua rememoração é, por muitas vezes, a busca incessante e frenética de tornar essa memória subterrânea uma definitiva parte da história. No exemplo das mulheres envolvidas com as organizações revolucionárias, essa rememoração é a tentativa de nunca silenciar e de não esquecer o que vivenciaram em combate. Os filmes de Murat visam trazer à tona essa memória subterrânea que está fincada na alma.
Que Bom Te Ver Viva visa compreender e mostrar como as mulheres combatentes e torturadas vivem, passados cerca de vinte anos de suas respectivas prisões. Qual é a leitura que tais mulheres tiveram de todo o processo. O filme busca entender suas vidas após a prisão, a tortura e a abertura. Como conseguiram se reinserir na sociedade brasileira, visto que estão ainda reorganizando suas vidas. Trata-se de um filme sobre mulheres feito por uma mulher que viveu situações similares. A mesma visão e sentimento faz questão de ser levantada por Lúcia Murat em A memória que me contam.  Quando se trabalha com documentários há a tendência de associá-lo ao real, tal qual aconteceu, uma vez que este é uma vertente cinematográfica que registra ou comenta um fato, ambiente ou determinada situação vivida na realidade social. Todavia, deve-se ter em mente que mesmo quando se trata de depoimentos, todos os gêneros, incluindo o documentário, possuem uma proposta, um objetivo, que, por sua vez, é dotado de uma ideologia, não podendo ser interpretado como imparcial:

Qualquer filme retrata a memória é um fenômeno construído e que, nesse processo de construção, seleciona-se aquilo que se deseja solidificar na memória de um grupo ou de uma sociedade, assim como aquilo que se deseja apagar dessa mesma memória. (SANTOS, 2008, p. 5)


A imagem cinematográfica busca reconstruir a realidade a partir de uma linguagem própria e, assim, podemos interpretar o filme como uma forma de reavivamento da memória individual e social. Bem mais do que descrever ações combativas contra um governo ditador, o filme Que bom te ver viva mostra o preço que essas mulheres tiveram de pagar, e que ainda pagam, por terem sobrevivido lúcidas à experiência da tortura. Para diferenciar a ficção do documentário, Lúcia Murat optou por gravar os depoimentos das ex-presas políticas em vídeo alternado ao monólogo da personagem de Irene Ravache. Através da pergunta feita em torno da narrativa ‘(...) ao invés de por que sobrevivemos seria como sobrevivemos?’, vemos a história de cada mulher combatente se mostrando para o telespectador. Falar da luta armada é falar de cada vida que começa a se abrir.  Assim conhecemos as histórias de Maria do Carmo Brito, Estrela Bohadana, Maria Luzia Rosa, Rosalina Santa Cruz, Criméia de Almeida, Jessie Jane, Regina Toscano e Anônimo. Na exposição das vidas das depoentes, Murat deixa claro que com a tortura que sentiram na pele, só restava para elas a loucura ou a sobrevivência.  A loucura seria uma forma de esquecer a tortura sofrida e sobreviver seria conviver com a triste dor da memória da tortura.  E todas se encontravam na segunda opção. A cobrança do esquecimento por parte da sociedade em geral, é enfatizada por todas as mulheres que depõem no filme, porém o esquecimento é negado por todas elas.
            A morte de Vera Silvia Magalhães, em dezembro de 2007, verdadeiro ícone da resistência e da esquerda brasileira (ela ajudou a planejar o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick em 1969), foi fundamental para a realização do filme A memória que me contam. O filme partiu dessa vontade que Murat alimentava em homenagear Vera. A própria personagem Irene é também uma representação de Murat. O filme não é só sobre a ditadura, mas sobre pessoas que lutaram contra o regime, sobreviveram e hoje vivem num tempo diferente, um país alheio às suas convicções de vidas no passado. No longa metragem, este choque de realidade é dado pelos personagens jovens, filhos desses militantes. Lúcia Murat assina o roteiro com a escritora Tatiana Salem Levy e investiga como o passado e o presente dialogam nas figuras dos amigos militantes e seus filhos no presente. Os principais personagens jovens são Eduardo (Miguel Thirré), filho de Irene, e Gabriel (Patrick Sampaio), filho de Ricardo (Otávio Augusto). Os dois rapazes formam um casal e, ao contrário dos personagens mais maduros, aparecem como figuras menos bem delineadas do que a geração de seus pais. Outro personagem que ajuda a estabelecer um contato entre o passado e o presente é Paolo, interpretado pelo ator italiano Franco Nero. Exilado no Brasil, Paolo é acusado de terrorismo em seu país. Embora possa lembrar de imediato Cesare Battisti, o personagem é, na verdade, inspirado num grupo de italianos que se refugiaram no Brasil na década de 1980.
            O enterro de Ana é marcado pelo tom de percepção do fim de suas utopias e ideais. José Carlos (Zé Carlos Machado), por exemplo, era membro da resistência à ditadura militar e hoje é ministro da Justiça, o único do grupo deles que efetivamente chegou ao poder. Através desse personagem, Lúcia Murat parece mostrar toda a sua insatisfação com aqueles que lutaram na época da ditadura, chegaram ao poder e se esqueceram do ideário de esquerda. O personagem do filme é questionado sobre seu papel de representante de uma luta no atual governo, mas se mostra incapaz de retomar seu pensamento do passado na posição política do cargo de confiança que ocupa agora. Como nos diz o analista político André Singer (2012, p. 244), “o fato de a política brasileira ser excessivamente personalista obscurece o sentido coletivo da ação dos políticos”.  Nesse momento, o pensamento coletivo da luta dos anos de chumbo, luta, inclusive, na qual ele esteve presente, é colocado de lado em prol dos objetivos pessoais de vida do ministro.
            A memória que me contam tem como pano de fundo a ditadura militar, mas, como define Lúcia Murat, é um filme ambientado nos dias atuais, com poucos flashbacks. Grande parte do filme é ambientada na sala de um hospital onde pais e filhos falam do passado, às vezes em clima de embate. Um cenário que, para Murat, oferece leituras diferentes, dependendo da idade do espectador. Por conta das temáticas de sobrevivência e dor da perda, Lúcia Murat não quis retratar os ex-guerrilheiros como meras vítimas:

Não fomos vítimas passivas. Nós reagimos. Evidentemente, também erramos, como qualquer ser humano. Mas foram momentos muito duros. Queria que (os jovens) vissem aquele momento com a complexidade dele — reflete a diretora, que tem uma visão crítica sobre a ideia, segundo ela compartilhada inconscientemente por muitos ex-militantes, de que a sua geração fez tudo pela suposta liberdade sexual que se tem hoje. — O que tentei abordar no filme, através da homossexualidade (a personagem Irene tem um filho gay), é esse mito de que fomos totalmente libertários. Existe preconceito velado na Irene. A gente carrega preconceitos em função de como vivemos e fomos formados. ³

            Ana está morrendo e ela é o último elo de um grupo de amigos que resistiu à ditadura militar no Brasil. Irene, cineasta, está trabalhando num filme que tem a ver com os anos sessenta. Cada um dos personagens na sala de espera traz uma questão que liga os anos de chumbo a questões atuais. Todas as discussões se acirram. No final, após a morte de Ana, Irene diz que está feliz por ter conseguido realizar um lindo filme sobre a amiga e o espectador entende que o filme de Irene é o filme sobre Ana. De fato, temos, nesse momento, Lúcia Murat afirmando ver o cinema como a possibilidade de eternizar um sonho.
            A exposição do passado no presente sempre é proposital. Rememorar é não deixar morrer o que ficou para trás. Ao menos é uma tentativa disso, uma vez que a memória nunca é contínua e sempre nos chega selecionada, apesar de não sabermos explicar o motivo disto ocorrer. Fica entranhado na mente e no corpo as atitudes daqueles que abusaram do poder que possuíam. Para muitos da sociedade da época, falar sobre a tortura era algo muito difícil. Acreditavam que era coisa de gente rancorosa, que não consegue esquecer. Além de voltar-se às questões da esquerda militante e dos torturados, Que Bom Te Ver Viva representou a busca da compreensão e da conexão entre o passado e o presente, representou a tentativa de responder as tantas perguntas que surgiram com estas vivências. Foi denúncia visando alertar as pessoas do ocorrido durante a ditadura militar, ao passo que o Brasil se encaminhava para as eleições. Para a diretora, não era possível pensar em um futuro, sem ligá-lo ao passado, e o filme visava cobrar esta lembrança à sociedade, através dos relatos dessas mulheres de verdade. Ademais, ocorre uma constante busca pela identidade cultural, o que faz com que se comece a buscar a construção de uma memória coletiva, ou seja, que não ficasse vinculada apenas à dos militares, de cunho oficial, mas também aos setores da esquerda, o outro lado da história, até então marginalizada. A escrita da memória tem sido um dos gêneros mais usados para reavivar o passado submerso pela memória subterrânea. As obras pós-modernas são híbridas e misturam ficção, memórias e até mesmo reportagem. Murat procura, enquanto cineasta, expor os fatos e extrair o teor de verdade deles sem uma banalização do mal. A autora procura, nessa dialética de montar imagens e fragmentos, puxar a percepção e desmitificar a arte de falsificar o real, a história. Ela puxa o fiozinho da memória e do passado e traz verdades à tona. A abordagem de Murat parte da necessidade de sempre resistir a um passado marcado por barbáries, pelas torturas que marcaram os anos de chumbo.
Juridicamente, o esquecimento pode ser legalmente exercido desde que não sirva para violar a moral, a consciência e as memórias individual e coletiva.  É possível reconhecer no direito, principalmente em casos pós Nazismo, um movimento que alega o direito ao esquecimento em casos onde a dor se faz maior que a preservação da memória.  Essa existência de um direito ao esquecimento, a concepção do esquecimento como um direito modifica grandemente o seu significado jurídico porque, tradicionalmente, era concebido como uma forma de punição ou benevolência (LE GOFF, 2000).  O direito ao esquecimento é baseado em princípios e não consta efetivamente com este nome nos códices.  Tal direito também não pode ser visto como um delírio moderno (WEINRICH, 2001).   Esquecer é uma necessidade tão importante e necessária ao ser humano quanto lembrar porque permite selecionar as informações ininterruptamente recebidas por nosso cérebro, preservando somente aquelas que são úteis, necessárias ou significativas. Não existe uma verdadeira contradição entre lembrar e esquecer, pois os dois atos fazem parte do mesmo processo. Memória, história e esquecimento estão imbricados intimamente. Mas, as depoentes do filme Que bom te ver viva e a própria Lúcia Murat, em ambas as películas, optam por não esquecer para não caírem no triste artifício de perder o próprio passado, morrendo através do esquecimento de toda uma luta em vida.

Considerações finais

Nunca foi mencionada nenhuma alusão feminista da parte das guerrilheiras na época de combate na ditadura. Contudo, poderíamos considerar que o feminismo apareceu com muita força no país no contexto de lutas dos anos de chumbo, na atmosfera de busca por igualdades em todos os âmbitos, quando, segundo Soihet (2005, p. 319) “as mulheres que aspiravam por uma sociedade mais justa e equitativa na relação entre gêneros movimentavam-se”. Essa ruptura de comportamentos com a participação feminina nas organizações militantes foi um indicador fundamental da mudança que estava ocorrendo nos papéis conservadores de gênero, dando início ao fim do estereótipo da mulher restrita ao espaço privado e doméstico (RIDENTI, 1990). Lucia Murat é cineasta, jornalista, ex-guerrilheira e, principalmente, mulher. Sua posição política feminina/feminista nos filmes Que Bom Te Ver Viva (1989) e A memória que me contam (2012), dentro da perspectiva do cinema-denúncia, procura fazer dos relatos das personagens principais, num misto de realidade e ficção, uma denúncia do que foi viver e ser militante política em uma das épocas mais duras do país.  Ela mostra um comprometimento político em seus filmes e não foi à toa que as suas personagens principais nos filmes são mulheres. Murat diz ao que veio quando o assunto é recontar as barbáries realizadas nos porões da ditadura militar. Assim como fez Benjamin, Murat procura politizar a arte. Nas montagens de percepções presentes nos filmes, a autora faz a sua leitura da verdade negativa do todo, criticando o documental e a barbárie. Ao narrar através da película, ela tem como base a técnica de colecionar e apresentar fragmentos do passado. Walter Benjamin (1986) nos diz que a narração é o momento que o tesouro do passado pode ser dado às gerações jovens pra levar adiante a sua função de aconselhamento. O fato narrado toma, assim, a forma de instrução primeira do homem, pois é também a experiência que pode ser passada adiante.  É pela narrativa que a memória pode ser compreendida porque foi transmitida.
            Em nome do pensamento politizado da esquerda brasileira, em nome dos abusos sofridos, pela camuflagem e pela clandestinidade em que foram obrigadas a viver na época de luta contra a suspensão de todas as garantias individuais e dos direitos políticos, seguindo um ideário de libertação manifestado pelos segmentos operários, estudantis, artísticos e intelectuais, os filmes foram feitos. As histórias que ninguém conhece, oriundas de personagens reais também esquecidos pela vida e pelo tempo, são as que realmente importam para Murat. Assim, vai lançando o passado no presente e resgatando lutas que ficaram nas mentes e no tempo. Uma luta que lhe trouxe orgulho, apesar de toda dor. Ironicamente, quem sabe Murat tenha ficado envergonhada diante do que o primeiro e legítimo representante da esquerda fez no poder. Como se diz, o governo Lula não foi um grande exemplo em prática de toda ideologia que lutou na época da repressão. De fato,

a cultura do governo Lula foi a da universalização do consumo, com a criação profunda de seu sujeito pós-moderno, sujeito de consumo, de agentes econômicos liberados para o vinculo com a mercadoria em seu primeiro nível de acesso, e não com a cidadania plena, e não abstrata, ou com o conhecimento livre ou crítico. Uma dimensão da subjetivação passou a ser a da transmissão direta do eu ao sonho e ao desejo do mercado. (AB’SABER, 2011, p. 62)

É como se toda luta, toda tortura sofrida nos porões da ditadura fossem embora pelos ralos da corrupção e do desfazimento de um sonho ideológico. Algo muito triste para quem se preocupa em reavivar o passado esquecido pela maioria, visando narrar a verdade daqueles que foram apagados pela história oficial.
Durante anos, as militantes em suas identidades sociais foram impedidas de serem elas mesmas, não ficando livres do peso da memória que tinham ou do estigma social que carregavam por terem pertencido aos grupos de esquerda, ou seja, terem ficado debaixo do duro estigma de terem abandonado a vida privada que levavam para se tornarem mulheres que se expuseram ao universo público e masculino. Os filmes mostram um comprometimento da cineasta com uma angústia inerente ao compromisso direto com a memória e com o real. São resgates da integridade contra um vazio existencial e social em que tais guerrilheiras ainda se sentiam submersas mesmo após movimentos como a Anistia e a Democracia. São amostras de vidas de pessoas que tiveram biografias próprias, que fizeram escolhas, que sofreram suas consequências por tais escolhas, mas que, em nenhum momento se fizeram de vítimas de uma situação.

Notas
1 MURAT, Lucia.  Entrevista  com  a  cineasta. Disponível em http://www.taigafilmes.com/memoria/memorias+a-memoria-que-me-contam.htm. Acesso em 5 de julho de 2013, às 20h.

2  MURAT, Lucia.  Depoimento na íntegra de Lúcia Murat para Comissão da Verdade do Rio de Janeiro. Disponível em Partido Comunista Brasileiro (site). http://pcb.org.br/portal/index.php. Acesso em 10 de julho de 2013.

3 MURAT, Lúcia. Entrevista ao Globo Cultura. “Lúcia Murat desmistifica ex-guerrilheiros em A memória que me contam”. Disponível em  http://oglobo.globo.com/cultura/lucia-murat-desmistifica-ex-guerrilheiros-em-memoria-que-me-contam-8717340.  Acesso em 5 de julho de 2013, às 21h.


Referências
ABREU, Alzira Alves de. “Quando eles eram jovens revolucionários”. In Viana, Hermano (Org.). Galeras Cariocas: territórios de conflitos e encontros culturais. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.
ABSABER, Tales. Lulismo, carisma pop e cultura anticrítica. São Paulo: Hedra, 2011.
BENJAMIN, Walter. Textos escolhidos. Tradução de Modesto Carone, 2a. Ed., São Paulo: Abril Cultural, 1986.
BROWNMILLER, Susan.  Against our will: Men, Women and Rape. New York: Bantam Books, 1975.
COUTINHO, Carlos Nelson. Contra a Corrente: ensaios sobre democracia e socialismo. São Paulo: Cortez, 2008.
FERREIRA, Elizabeth Xavier. Mulheres: militância e memória. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Lisboa: Edições 70, 2000.

MURAT, Lucia.  Depoimento na íntegra de Lúcia Murat para Comissão da Verdade do Rio de Janeiro. Disponível em Partido Comunista Brasileiro (site) http://pcb.org.br/portal/index.php. Acesso em 10 de julho de 2013.

____. Entrevista. Disponível em http://www.taigafilmes.com/memoria/memorias+a-memoria-que-me-contam.htm. Acesso em 5 de julho de 2013, às 20h
____. Entrevista ao Globo Cultura. “Lúcia Murat desmistifica ex-guerrilheiros em A memória que me contam”. Disponível em  http://oglobo.globo.com/cultura/lucia-murat-desmistifica-ex-guerrilheiros-em-memoria-que-me-contam-8717340.  Acesso em 5 de julho de 2013, às 21h.
PERROT, Michelle. Mulheres Públicas. São Paulo: UNESP, 1998.
POLLACK, Michel. “Memória, Esquecimento, Silêncio”. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol.2, n. 3, 1989, p. 3-15.
RIDENTI, Marcelo Siqueira. “As mulheres na política brasileira: os tempos de chumbo’. In: Tempo Social, vol.2, n.2, 1990, p. 113-128.
ROSALDO, Michelle. “A mulher, a cultura e a sociedade: uma Revisão Teórica”. In: ROSALDO, Michele & LAMPHERE, Louise (Orgs.). A mulher, a cultura e a sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
SAFATLE, Vladimir. A esquerda que não teme dizer seu nome. São Paulo: Três Estrelas, 2012.
SANTOS, Márcia de Souza. “A Ditadura de Ontem nas Telas de Hoje: Representações do Regime Militar no Cinema Brasileiro Contemporâneo”. In: O Olho da História, v. 11, 2008, p. 1-15.
SELIGMANN SILVA, Márcio.   História, Memória, Literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Unicamp, 2006.
SINGER, André. Os sentidos do Lulismo: reforma gradual e pacto conservador. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
SOIHET, Raquel.  “Feminismo x antifeminismo de libertário: a luta das mulheres pela cidadania durante o regime autoritário”. In: SOIHET, Raquel et alii. Culturas Políticas: ensaios de história cultural, história política e ensino de história. Rio de Janeiro: Mauad, 2005.
TRIGO, Maria Helena Bueno.  A mulher universitária: códigos de sociabilidade e relações de gênero. In: BRUSCHINI, Maria Cristina(Org.). Novos olhares: mulheres e relações de Gênero no Brasil. São Paulo: Marco Zero e Fundação Carlos Chagas, 1994.
VAISTMAN, Jeni. Flexíveis e Plurais: identidade, casamento e família em circunstâncias pós-modernas. Rio de janeiro: Rocco, 1994.

WEINRICH, Harrald. Lete – Arte e crítica do esquecimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.