IMAGEN(S) DO BALDIO EM AUGUSTO ROA BASTOS



Valdir Olivo Júnior
(Doutorando - UFSC)

Resumo: Este artigo propõe indagar o trabalho do escritor paraguaio Augusto Roa Bastos como roteirista em seu período de exílio na Argentina. Objetiva, mais claramente, a leitura do filme Alias Gardelito (1961), um dos primeiros filmes roteirizados pelo escritor, com direção de Lautaro Murúa. O filme é lido a partir da alegoria do baldio, elemento frequente nos textos e filmes roabastianos, anteriores e posteriores à década de 1960.
Palavras-chave: Augusto Roa Bastos; Literatura; Cinema; Baldio

Resumen: Este artículo propone cuestionar el trabajo del escritor paraguayo Augusto Roa Bastos como guionista en su periodo de exilio en Argentina. Tiene como objetivo hacer una lectura del film Alias Gardelito (1961), uno de los primeros filmes con guión del escritor y dirección de Lautaro Murúa. El film es leído a partir de la alegoría del baldío, elemento frecuente en los textos y filmes roabastianos, anteriores y posteriores a la década de 1960.
Palabras claves: Augusto Roa Bastos; Literatura; Cine; Baldío

1. Introdução

Em 1993 vinha a público pela primeira vez no Paraguai o livro Mis reflexiones sobre el guión cinematográfico y el guión de Hijo de hombre de Augusto Roa Bastos. Livro que inaugurava a coleção “Lecturas de Cine”, com a supervisão de Hugo Gamarra1. Além de trazer o roteiro do filme Hijo de hombre (1960), –também conhecido como La sed ou ainda Choferes del Chaco– o livro trazia também um texto inicial no qual Roa Bastos relatava sua experiência como roteirista dureante sua estadia na Argentina, sem deixar de fazer um panorama crítico das principais teorias cinematográficas que marcaram o cinema da década de sessenta2. Neste livro, o autor de Yo el supremo (1974), partidário do “movimiento dialéctico para la concretización y afinamiento de los medios de expresión propios de un genuino lenguaje fílmico” (ROA BASTOS, 1993, p. 17), além de fazer importantes contribuições intrínsecas ao cinema revela uma nova faceta de seu labor literário. Caracterizando o roteiro, em sua fase posterior às discussões do Cinema puro3, Roa Bastos afirma:

Ya no se trata entonces de escribir con palabras, sino con imágenes dotadas de una cualidad cinética y dinámica, y de expresar a través de ellas los aspectos del mundo y de la vida, de la realidad y de la fantasía, que no podían hacerse por ningún otro medio conocido hasta entonces. (ROA BASTOS, 1993, p. 18)

Essa sua preocupação como roteirista de “escrever com imagens cinéticas e dinâmicas” e de buscar uma genuína construção fílmica se inscreve também em seu trabalho como escritor.

Trabajar como guionista fue una experiencia muy útil para mí, no solamente como hombre de cine (por devoción y afición más que por conocimientos técnicos) también como escritor. A mí el cine me hizo nacer como escritor. Siempre me llamó mucha la atención el cine. En Paraguay era muy difícil ver buenas películas. Y eso fue quizás exacerbando esa necesidad de expresarme por la imagen.4

É no mínimo curiosa a expressão “nacer como escritor”. A metáfora do nascimento sempre esteve atrelada direta ou indiretamente à arte como criadora de personagens, mundos, verdades. No caso de Roa Bastos, o nascimento assume uma consistência bastante particular como se existissem dois nascimentos, um da vida que se inicia com o nascimento físico e prossegue linearmente e outro que segue a contracorrente, ou melhor, a “contra-vida” que vai do fim ao início, um nascimento como memória, pois “recordar es retroceder, desnacer, meter la cabeza em el útero materno, a contravida.” (ROA BASTOS, 1997, p. 19). Uma memória pessoal, mas também coletiva.

El hombre, mis hijos – decía repitiendo casi las mismas palabras de Gaspar-, tiene dos nacimientos. Uno al nacer, otro al morir… Muere pero queda vivo en los otros, si ha sido cabal con el prójimo. Y si sabe olvidarse en vida de sí mismo, la tierra como su cuerpo pero no su recuerdo (ROA BASTOS, 1967, p. 38).

Se, como afirma Roa Bastos, o cinema o fez nascer como escritor, talvez seja por revelar a natureza mnemônica da imagem na consciência que só existe abrindo-se para o todo do universo, um todo que é sempre aberto. Dessa forma, toda obra literária ou fílmica está carregada de imagens presentes de um passado que a todo o momento se atualiza de infinitas formas, onde a originalidade não é possível e tampouco desejável.
Uma constante “cleptomnesis”5 em que o artista rouba, através da memória, seu próprio texto, suas lembranças, mas também textos alheios em um constante processo de variação e reescritura. Em palavras de Roa Bastos: “el robo es lo mejor que pude pasar a la palabra escrita [e também à imagem, poderíamos complementar] porque siempre esta abierta para que todos la usen a su talante” (ROA BASTOS, 1995, p. 87).
Nesse sentido, assim como nos primórdios do cinema se podia falar de um cinema-literário, hoje, como afirma Roa Bastos, “pode-se dizer que o cinema criou o romance cinematográfico” (ROA BASTOS, 1993, p. 30). Na época de seu primeiro exílio na Argentina, Roa Bastos intercalou seu trabalho como roteirista a seu labor literário, compondo muitos contos que seriam publicados posteriormente sob o título de El baldio (1966). Neste livro, o autor busca criar uma teoria da narrativa através do Gordo (Godard?)6, personagem-narrador do conto Contar un cuento que em determinado momento afirma:

Para mí la verdad es la que queda cuando ha desaparecido toda la realidad, cuando se ha quemado la memoria de la costumbre, el bosque que nos impide ver el árbol. Sólo podemos aludirla vagamente, o soñarla, o imaginarla. Una cebolla. Usted le saca una capa tras otra, y ¿qué es lo que queda? Nada, pero esa nada es todo, o por lo menos un tufo picante que nos hace lagrimear los ojos. (ROA BASTOS, 2005, p. 09-10)

Nesse sentido, é importante apontar como tautologia a idéia de que se a falta de realidade é a condição para a verdade trágica, a arte se faz verdade a partir do momento que não se compromete com o real. A arte “verdadeira” é aquela que não busca uma realidade única, inexistente.
Esta é a forma como Roa constrói o relato, montando e desmontando a “cebola”, intercalando acontecimentos impossíveis a fatos históricos, real e irreal mudam continuamente de lugar, se misturam e se transformam, de forma que rigor científico e imaginação não se excluem.

2. Alias Gardelito (1961)

Entre os primeiros filmes roteirizados por Roa Bastos e que abrem a importante e frutífera década de 60 para o cinema argentino estão Shunko (1960) e Alias gardelito (1961), ambos com direção e atuação de Lautaro Murúa7 (1926-1995) e roteiro de Augusto Roa Bastos. Este trabalho se centrará no filme Alias Gardelito.
O filme começa com os faróis de um carro que se aproxima em meio à escuridão e para em um lugar desabitado. Devido à neblina, ao coaxar de sapos e sons de outros animais, deduz-se ser um terreno baldio. Dois homens saem de um carro carregando um corpo, que jogam por uma ribanceira. O corpo roda algumas vezes até parar em meio ao lixo, que devido ao jogo de luzes sugere a proximidade de um rio. Não são necessários mais detalhes para que um conhecedor do conto El baldio (1960) de Augusto Roa Bastos se familiarize com a cena. Nesse conto, um homem arrasta um corpo por um lixão perto de um rio, enquanto em um determinado momento vê o farol de um carro que passa nas proximidades:

Los faros de un auto en curva desparramaron de pronto una claridad que llegó en oleadas sobre los montículos de basura, sobre los yuyos, sobre los desniveles del terreno (ROA BASTOS, 1966, p. 20).

Esta descrição, presente no texto literário, descreve com precisão o primeiro plano do filme; e também como no conto de Roa Bastos, o corpo de Gardelito se arrasta em meio ao lixo, enroscando-se nos detritos, num ambiente sinistro e úmido (que permanecerá por toda a obra). O mais curioso é que, assim como no conto, no filme também existe um homem no baldio junto ao Gardelito agonizante. No conto esse homem encontra um bebê abandonado, esse bebê é como o próprio Gardelito, que passou a infância como catador de lixo e ao final acaba voltando para ele. Desta forma o filme insiste na lógica circular.
Apesar de aqui o personagem e mesmo a estória (o argumento) não pertencerem ao texto do escritor paraguaio, mas sim ao de Bernardo Kordon (1915-2002), escritor argentino, é latente no filme a presença de imagens e elementos recorrentes na obra de Roa Bastos, como o ambiente predominantemente noturno e ambíguo de seus contos, uma escuridão sempre à espreita, inevitável, como metaforiza a já mencionada anedota dos vaga-lumes, na qual a luz é sempre e já condenada a extinguir-se. Essa escuridão potencializa o jogo de sentidos criando personagens dúbios. Além da escuridão há a presença do baldio, um circuito indiscernível, um espaço qualquer, sem vínculo geográfico determinado.
O baldio é o princípio, o espaço chave onde tudo tem início e fim e de onde nunca se saiu. É um espaço qualquer composto de partes indeterminadas e restos, o baldio é um “mundo originário”:

O mundo originário é um princípio de mundo, e a inclinação irresistível de um para o outro: é ele que carreia o meio e que também faz dele um meio fechado, absolutamente enclausurado, ou então que o entreabre para uma esperança incerta. O depósito de lixo onde o cadáver será atirado, eis a imagem comum de Esposas ingênuas e Los olvidados. Os meios estão sempre brotando ou regressando ao mundo originário: e mal emergem, como esboços já condenados, já confundidos, para voltar mais definitivamente para lá, caso não recebam a salvação, salvação que só pode vir desta volta à origem. (DELEUZE, 2007, p. 160)

Da mesma forma Gardelito mal emerge do lixo e volta a ele. À comparação de Deleuze poderíamos acrescentar o filme roteirizado por Roa, onde “o cadáver atirado ao lixo” é uma imagem comum. O mundo originário não deixa de ser o lugar onde o filme ocorre, revelando a face suja da cidade e suas relações sociais através de suas sobras, sua violência e crueldade. Alias Gardelito é um filme de partes, pedaços de lugares e corpos esquartejados pela escuridão do mundo originário, que a todo momento está “engolindo” os meios, de onde Gardelito não pode sair. O baldio se encontra no interior do personagem marcando desde o início o tempo de regresso. Ao final, o gesto agonizante não encontra resposta, não há salvação ou saída para ele.
Ele é, ao mesmo tempo, a criança (o bebê encontrado no lixo) e o cadáver do conto El baldio (1960), um parasita, para voltar à metáfora de Roa Bastos, que se alimentou das sobras do conto. Através de sua astúcia tenta uma ação de mudança para abandonar as sobras (o gesto incisivo do personagem jogando fora o resto de uma fragrância no hotel antes da fuga), porém sua ação fracassa, ele está preso ao baldio, estancado por ele.
Alguns críticos estabelecem uma relação entre Alias Gardelito e o cinema noir norte-americano, principalmente devido à temática do mundo do crime, do gangster e sua relação com a sociedade. Assim como nos filmes de gângsteres, Gardelito vive em um meio sem leis, marcado pela degradação e pelos comportamentos fissurados, onde todas as alianças são precárias e passageiras. No entanto, postulo o cinema noir como pertencente à esfera da imagem-ação que corresponde à relação entre uma determinada situação que é modificada por uma ação minutada como um assalto ou um duelo.
Em linhas gerais, no western e no cinema noir, exemplos de imagem-ação, deve haver alguma situação para que o heroi ou anti-heroi possa reagir e modificar a situação inicial. Gardelito, no entanto não é capaz de uma ação efetiva que possa transformar ou reagir sobre seu entorno, diferença entre Gardelito e Toni Camonte, personagem de Scarface, vergonha de uma nação (1932), um dos clássicos do cinema noir dirigido por Howard Hawks (o fato de a tradução do título do filme dialogar com Nascimento de uma nação (1915) de Griffith é bastante significativo).
Camonte, personagem central de Scarface, afirma: “nesse negócio devemos seguir uma regra para não metermos em problemas: faça antes, faça você mesmo e continue fazendo” a repetição contínua do verbo “fazer” indica a importância da ação no filme que justamente gira em torno do personagem e suas ações para conseguir a chefia do grupo e o domínio da venda de bebidas alcoólicas. Em Gardelito, a ação não chega a ser totalmente concretizada, ela fracassa. Pode-se objetar que os gângsteres também fracassam, no entanto conseguem antes modificar a situação. Camonte se torna chefe e dono das vendas de bebidas. Mas o homem da cicatriz no rosto não deixa de estar presente no filme roteirizado por Roa, faz-se presente em dois personagens, um é o cozinheiro da pensão onde Gardelito se hospeda, um gaúcho redimido8 que opta pelo trabalho honrado. O outro personagem que possuí uma cicatriz no rosto é o Engeniero, ex-comandante nazista, um dos chefes do bando. A cicatriz destes personagens, assim como as rugas de Feasini, signos de experiência e transformação, contrastam com as expressões infantis de Gardelito nas sequências em que ele se encontra coagido ou quando agoniza no baldio.
O fracasso no texto roabastiano não se dá através da grande forma da imagem-ação, onde existe uma luta entre a personagem e o meio que deve superá-lo e transformá-lo, modelo do western. Em Roa Bastos, o fracasso vem associado à imagem do mundo originário (o baldio) sempre presente no interior das personagens, como sugere a epígrafe do livro El baldio (1966): “el que abandona su viña la verá morir dentro de si en baldio, y su vino será amargo”. Está máxima ou provérbio criado por Roa refere-se à parábola bíblica do homem que arrenda sua vinha.9
Existe nesta epígrafe uma falsa idéia de que exista uma escolha, deixa entrever que exista uma possibilidade de não abandonar a vinha. Em Roa, porém, abandonar a vinha não é uma opção, ela já se encontra desde sempre abandonada. O milagre do vinho se inverte, e o vinho será amargo, pois nascerá de um solo regado a sangue.
Se o western é o lugar da ação, o baldio é o lugar do estático como no conto Él y el otro no qual o narrador contrasta sua realidade com a dos filmes western:

Igual que en las corridas del Lejano Oeste que uno suele ver en las películas pero aquí no en las vistas por las llanuras interminables y a caballo y en carromatos lanzados a toda velocidad hasta la puesta del sol sino en un agujero negro bajo tierra hediendo a aire viciado y muerto y para que corno digo yo apurarse de aquí, allá o en cualquier parte si en esta ilusión de espacio y tiempo soñamos que nos movemos resulta redondamente lo mismo estar parado y con la cara pegada a la pared que salir disparando como alma que lleva el diablo ¿hacia adónde me quieren decir? No le queda más que el furor domesticado de la costumbre el vago rencor del hombre cosificado con el honguito moral del yo (ROA BASTOS, 2005, p. 100).

É dessa forma justamente que os personagens se movimentam no filme, Gardelito segue sua pulsão de acumular restos, arrancar pedaços do que ele não pode efetivamente conseguir até terminar “lançado” ao mesmo buraco negro, a custa destas poucas sobras que tenta conseguir. Nesse sentido vale recordar a relação entre a sequência em que Gardelito conversa com Picayo no bar, a postura de superioridade que assume, pedindo que o garçom devolva o troco ao amigo, as três moedas sobre a mesa corresponderão aos três tiros disparados ao final.
Dessa forma o corpo do personagem termina jogado nesse mesmo “agujero negro bajo tierra hediendo a aire viciado y muerto”. O baldio se faz uma imagem recorrente na obra roabastiana, está presente nas personagens devorando-as desde seu interior, essa emanação do baldio que se faz sentir também entre Eulogio e Manuel no conto El aserradero (1956).

Un pueblito maderero aislado totalmente por la selva y donde toda la gente la tierra los animales viven como enterrados en el pasado y nadie espera nada para ellos el tiempo es esa selva interminable que los hombres van talando y aserrando (…) esos dos muchachos que pelean por la chinita del lugar desde luego no serían hermanos pero para el caso como si lo fueran sus amoríos empiezan en los bancos de escuela aparentemente pero en realidad han comenzado muchos antes y no son más que el espíritu o la emanación nefasta de ese encierro y seguirá proyectándose mucho después como el tufo de miasmas que se levanta de los pantanos algo de esto ocurría en los dos hombres del tren y ha ocurrido en muchos casos parecidos. (ROA BASTOS, 2005, p. 102)

Estes personagens, marcados pelo estigma do baldio, estão condenados às crueldades do mundo. Manuel é assassinado por Eulogio, que busca, não uma vingança, mas a destruição completa dele, de forma que, além de matá-lo, deve “possuir” também sua mulher. Da mesma forma é o ódio e não a amizade que aproxima Gardelito de Feasini. Ambos os personagens são unidos por uma relação ambígua, “era lindo odiarlo y querer ser como él, a veces el odio une más que la amistad”10, afirma Gardelito ou, no conto El aserradero: “una rivalidad que, en lugar de separarlos, los unió más estrechamente en esa especie de mutuo acecho que era no más un nuevo modo de camaradería” (ROA BASTOS, 1966, p. 44). Mais uma vez aqui encontramos um tema recorrente na escritura roabastiana que é justamente essa relação de ódio que une dois homens, geralmente dois irmão, a reescritura do mito bíblico de Esaú e Jacó11. Uma relação de ódio pressupõe na verdade um amor, ainda que não haja identificação. O dis-curso aqui não é amoroso, como os fragmentos de discurso de Barthes, mas é da paixão, de pathos, no seu sentido primeiro.

Para abominar um valor é necessário mandar como emissários, como informantes, as testemunhas. Elas vão na frente, declaram. É esse o sentido de detestari, em latim. Se, além do mais, testis, a testemunha, nunca é uma pessoa, mas o relato de um processo de desubjetivação, concluiríamos que aquilo que se detesta é também algo (desconhecido, que nunca estamos em condições de suportar) muito amado, embora não possamos nos identificar plenamente com ele. (ANTELO, 2008, p. 01)

Dessa forma Gardelito ama e admira Feasini, no entanto, busca superá-lo e não viver mais das sobras que lhe proporciona.
Em seu ensaio sobre o amigo, Giorgio Agamben parte de Aristóteles para definir a amizade como uma “alteridade imanente da ‘mesmidade’” (AGAMBEN, 2009, p. 90), em outras palavras, a amizade, que está intrinsecamente ligada à filosofia, é a relação com um amigo em que o que se compartilha é a própria existência, deve-se “com-sentir” a existência do amigo. Para Agamben esse “com-sentir” originário é o que constitui a política ou a comunidade. Por tanto, ao contrário da comunidade e do com-sentir(mento) dos amigos estão a solidão e a negação da coexistência entre os seres, e aí se encontra justamente uma das possíveis interpretações da metáfora do baldio, esse espaço, sem o pathos que compõe a imagem sensório motora. Pois assim como afirma o velho Macário França, personagem de Hijo de hombre (1960),

El hombre es como un río. Nace y muere en otros ríos. Mal río es el que muere en un estero. El agua estancada es ponzoñosa. Engendra miasmas de una fiebre maligna, de una furiosa locura. Luego para curar al enfermo o apaciguarlo, hay que matarlo. (ROA BASTOS, 1967, p. 274)

O nomadismo da água em movimento é o signo da força que se transforma, do “com-sentir” entre os homens. Gardelito é a água estancada, água que se faz presente nos estilhaços de luz refratados na sequência inicial do baldio. De forma análoga a relação entre a amizade e o ódio, onde um se encontra dentro do outro; no cinema a ausência de imagem (proporcionada principalmente pelo corte e pelo extra-campo) dá conteúdo, visibilidade, à imagem. Como diria Didi-Huberman, “a ausência dá conteúdo ao objeto” ao mesmo tempo que constitui o próprio objeto (DIDI-HUBERMAN 1998, p. 96). Ainda que se referisse ao objeto, Didi-Huberman aplica esse princípio à imagem; nenhuma imagem é simplesmente passível e sossegada e nunca se esgota no que é visto ou pelo que ela deixa ver; propõe um pensamento da imagem também como perda e figuração da ausência; princípio que está intimamente ligado ao conceito benjaminiano de “imagem dialética”, uma imagem latente e em movimento como eterno apelo à memória. Ao comparar o conceito de imagem à noite Didi-Huberman afirma:

Tal é portanto a estranha visualidade dessas grandes massas negras geométricas [noite]. Ela nos impõe talvez reconhecer que só haja imagem a pensar radicalmente para além do princípio da visibilidade, ou seja, para além da oposição canônica – espontânea, impensada – do visível e do invisível. Esse mais além, será preciso ainda chamá-lo visual, como o que estaria sempre faltando à disposição do sujeito que vê para restabelecer a continuidade de seu reconhecimento descritivo ou de sua certeza quanto ao que vê. Só podemos dizer tautologicamente vejo o que vejo se recusarmos à imagem o poder de impor sua visibilidade como uma abertura, uma perda – ainda que momentânea – praticada no espaço de nossa certeza visível a seu respeito. É exatamente a partir daí que a imagem se torna capaz de nos olhar. (DIDI- HUBERMAN, 1998, p. 105)

Talvez o cinema, através do corte em suas duas concepções, tanto como jogo entre campo e extra-campo, quanto como interrupção e disjunção entre imagem e sentido e entre o som e o sentido (AGAMBEN, 2004, p. 04-05), mostre mais que qualquer outra arte essa potência do invisível presente em toda imagem. O mesmo que para Roa Bastos seria descascar as “camadas da cebola” e ao final o que resta? O nada, o invisível, que no entanto está presente no texto. Todo movimento, seja referente à linguagem, à imagem ou à música, pressupõe o invisível, o rumor e o silêncio, da mesma forma que todo campo pressupõe um extra-campo; silêncio e extra-campo também possuem significância.
O que se mostra invisível na imagem do baldio roabastiana é sua relação com o exílio, e aqui o filme extrapola o limite da imagem-movimento e se revela como imagem direta do tempo. O baldio é o tempo porque tudo o que muda está no tempo. Roa Bastos manteve uma relação paradigmática como o exílio, pois ao mesmo tempo em que sua escritura surge como a busca da origem, de uma imagem sempre ausente, começa a escrever narrativas e roteiros somente a partir de seu exílio. O exílio cria a obsessão do regresso sempre presente que se transforma em energia criativa. As imagens que compõem os textos roabastianos trazem impressa essa condição de que algo falta, e nesse algo (o extra-campo) se encontram as imagens de sua terra natal, o Paraguai, que serão revisitadas na narrativa de Contravida (1994) e no documentário-ficção El portón de los sueños (1998).
Assim como o personagem de Contravida que viaja ao passado em um trem o mesmo ocorre com Gardelito (além do trem na sequência inicial, também na estação, onde tomará um trem para Rosário ele caminha ao lado de outro trem) em um movimento que vai não do início ao final, mas do início ao início, pois “recordar es retroceder, desnacer, meter la cabeza en el útero materno, a contravida.” (ROA BASTOS, 1997, p. 19) Gardelito retorna à origem, mas na origem só existem restos e fragmentos dispersos. A imagem do baldio permanece pela obra roabastiana, será retomada no romance Contravida, porém agora entre os dejetos deste lugar se encontra o corpo de Gardelito decomposto, como um resíduo sobre o qual se construirão outras estórias.
Ao resenhar o pensamento de Nietzsche a partir de A origem da tragédia (1872), Raúl Antelo aponta como tese central de seu pensamento a ideia de que a “arte é o máximo estimulante da vida” e a vida é “vontade de poder”. Dessa forma Antelo chega à definição de “bioestética” como definição do sujeito moderno que gera, através dessa força (potência), a arte como forma de vida.

E esse modo de encarar o problema de uma progressiva anestetização da vida moderna, levava Nietzsche a constatar um descompasso entre as noções de arte e verdade, em outras palavras, esse hiato fazia com que o filósofo pensasse a arte como uma estética fisiológica, estreitamente ligada à vida, vida essa, por sinal, que ele concebia como vontade de poder, isto é, vontade de chance, de acaso, de arbítrio ou de jogo, em suma, como uma forma de bio-poder. A bioestética define, portanto, uma condição fundacional do sujeito moderno, qual seja, sua operatividade como força, em perpétuo estado de embriaguez, resultado do qual obtemos a obra de arte que, sob um ponto de vista perspectivista, nada mais é do que produção de formas de vida. 12

Ao analisar o cinema de Welles também a partir das reflexões de Nietzsche sobre arte e verdade, Deleuze afirma não existir mais o julgamento ou a crença na verdade. A verdade e a aparência desmoronam, o homem verídico exige para si um valor superior, vê na vida um mal que precisa ser punido, Nietzsche e Welles lutaram contra o julgamento, pois “a vida não tem de ser julgada, nem justificada, ela é inocente, tem a ‘inocência do devir’, para além do bem e do mal” (DELEUZE, 2007, p. 168).
Além da verdade, também o mundo das aparências desmorona, nada pode mais manter a possibilidade do julgamento. O que resta, então, são corpos como produções de formas de vida, e corpos são forças. E força é “o poder de afetar e ser afetado, a reação de uma força com outra” (DELEUZE, 2007, p. 170), o corpo de Rosalie (Rita Hayworth) que seduz Michael (Orson Welles) ou mesmo os corpos que se reproduzem infinitamente e se enfrentam na famosa sequência dos espelhos em A dama de Xangai (1948), a proliferação de centros e vetores, de forma que cada plano é um golpe recebido e um golpe deferido.
As forças que compõem os corpos dos personagens de Alias Gardelito são de duas qualidades. Tanto o Engenheiro como Feasini ou mesmo Picayo correspondem a um tipo de força que sabe se metamorfosear dependendo de como se dê a relação “afetar” e “ser afetado”. O general nazista deve se transformar e adaptar totalmente para esconder seu passado, Feasini sabe transitar dentro das transformações da sociedade, adaptando seus crimes para um novo conceito de sociedade, um compadrito globalizado que passa dos roubos na estação ao negócio da importação. E mesmo Picayo, que investia sua força em defesa do amigo, como na sequência da luta, após as constantes traições de Gardelito acaba entregando-o ao final. Dessa forma, a força que foi usada para defender Gardelito se metamorfoseará na força que o imobiliza, é Picayo quem segura Gardelito para que Feasini dispare os tiros que o matarão. À diferença dos gangsteres, herois e anti-herois dos filmes western que morrem em meio a um duelo ou tiroteio geralmente em campo aberto, Gardelito é assassinado dentro do carro enquanto é imobilizado, não há heroísmo em sua morte, há apenas medo e desespero. Reescreve-se o mito de Esaú e Jacó, porém Gardelito não será perdoado como no mito bíblico.
A segunda qualidade de força que compõe o filme está presente em Gardelito, a sua é uma força degenerada, apodrece estancada por não saber se transformar. Gardelito não pôde acompanhar essas mudanças que estavam ocorrendo na sociedade, já não pode se adaptar às transformações. O mundo da malevaje, das pequenas artimanhas terminou Feasini consegue se adaptar às novas formas de corrupção da sociedade, mas Gardelito não pode alcançar a altanaria que tanto cobiçava, pois seu mundo são as sobras, como sentencia seu padrasto: “te recogimos de la basura y seguís siendo un cirua”, “vivís de las sobras”. Como o escorpião de Grilhões do passado (1955) de Welles, que só sabe picar, até que termina conscientemente picando a rã que o leva ao outro lado do rio causando a morte dos dois, ele trata de enganar e aproveitar-se de quem o ajuda até causar sua própria destruição, e “esse é o ponto preciso em que a ‘vontade de potência’ já não é mais que um querer-dominar, um ser para a morte, e que tem sede de sua própria morte, com a condição de passar pela dos outros” (DELEUZE, 2007, p. 171).
Dessa forma, o personagem não é capaz de proporcionar uma ação que modifique efetivamente sua condição de parasita, abandonando assim as sobras com as quais conviveu toda a vida. E sequer possui a profundidade de campo presente na nova imagem-tempo, no entanto através do baldio cria uma imagem que se encontra de maneira embrionária entre a crise da ação e uma representação direta do tempo. Como vimos, para Deleuze, a nova montagem decompõe as relações entre a imagem e tempo para que dela saiam todos os movimentos possíveis. Os movimentos possíveis nessa imagem se encontram na propriedade do movimento decomposto em se reorganizar e se transformar em um novo movimento, passando da literatura ao cinema e do cinema à literatura.
A positividade desta imagem se encontra justamente naquilo que considera negativo. O baldio é o lugar no qual tudo finaliza, lugar das sobras e do que já não é necessário, no entanto é também o lugar de início, a matéria que se decompõe para gerar nova matéria. Nesse sentido, é oportuno relembrar o artigo/manifesto do escritor e cineasta brasileiro que, influenciado pelo discurso anti-colonialista e psicopatológico de Frantz Fanon sobre a colonização francesa na Argélia, propõe a metáfora da fome para ler e teorizar sobre o cinema latino-americano. A fome física, moral e estética, a impotência da ação (ROCHA, 2004, p. 64 – 65) e a apatia são elementos que compõem a originalidade deste cinema. Um filme no qual existem apenas pedaços de corpos e ações depositadas no baldio, a ação é gerada por um movimento exterior à imagem que roda as pequenas engrenagens fazendo girar a grande roda, sem nome e sem rosto.
Mais que criar e apresentar imagens, o cinema cria um mundo em volta delas. O mundo de Gardelito parece corresponder ao cristal de tempo onde atual e virtual são distintos, mas indiscerníveis e não param de intercambiar posições. Se, por um lado vemos no filme a queda do personagem e sua destruição, por outro há sua formação como “Gardelito”, sua pretensa carreira como cantor de tango e a tentativa de construir uma identidade pautada num ideal mítico do tango e seu ambiente marginalizado. Mais que uma suposta luta pela sobrevivência, a entrada do personagem no mundo do crime parece ocorrer de forma simulada, na tentativa de construir uma identidade supostamente típica do tango e de suas origens. Enquanto uma face se constrói e se revela dentro de sua fragmentação ocorre o apagamento de sua outra face: a imagem virtual de Gardelito se torna atual e límpida enquanto a atual de Toribio se faz opaca e se dissolve.
Alias Gardelito é um cristal em decomposição, de forma que o baldio é a imagem central da decomposição, mas é também a decomposição do personagem. É o passado que espera por Gardelito e que o engole escurecendo o cristal. O cristal em decomposição é o lugar por excelência do anacronismo, a comunhão e os resíduos da velha estória e a origem da nova, fazendo com que a nova história nasça de um ponto até então desconhecido, comprometendo dessa forma qualquer leitura originária, pois a origem não é mais a coisa da qual tudo provém, mas sim uma imagem que traz em si todo o anacronismo do velho que compõe o novo que ao mesmo tempo já começa a se decompor transformando-se novamente em origem, pois “a contemporaneidade tem o seu fundamento nessa proximidade com a origem que em nenhum ponto pulsa com mais força do que no presente” (AGAMBEN, 2009, p. 69). Ou, em palavras de Roa Bastos, uma história que “no cesará jamás de avanzar hacia el origen;”13 dando vida a cada fragmento e residuo: “he de hacer que la voz vuelva a fluir por los huesos y haré que vuelva a encarnarse el habla después que se pierda este tiempo y un nuevo tiempo amanezca.”14

3. Referências bibliográficas:

AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009. Trad. Vinícius Nicastro Honesko.

ANTELO, Raul. O intervalo da bioestética. Texto gentilmente cedido pelo autor.

BARTHES, Roland. A câmara clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. Trad. Júlio Castañon Guimarães.

DELEUZE, Gilles. Imagem-movimento. Brasiliense: São Paulo, 1985. Tradução: Stella Senra

DELEUZE, Gilles. Imagem-tempo. Brasiliense: São Paulo, 2007. Trad. Eloisa de Araujo Ribeiro

DELEUZE, Gilles. La isla desierta y otros textos. Valencia: Pre-textos, 2005. Tradução ao espanhol: José Luis Pardo Tório.

DIDI- HUBERMAN, Georges. O que vemos e o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 1998. Trad. Paulo Neves

ROA BASTOS, Augusto. Contravida. Buenos Aires: Norma, 1995.

ROA BASTOS, Augusto. Cuentos completos. Barcelona: Debolsillo, 2008

ROA BASTOS, Augusto. Mis reflexiones sobre el guión cinematográfico y el guión de Hijo de hombre. Asunción: RP ediciones, 1993.

ROA BASTOS, Augusto. Mis reflexiones sobre el guión cinematográfico y el guión de Hijo de hombre. Asunción: Servi Libro, 2008.

ROA BASTOS, Augusto. El Baldío. Buenos Aires: Losada, 2005

ROCHA, Glauber. Revolução do cinema novo. Tomo I. São Paulo: Cosac Naify, 2004.


Documentos eletrônicos:

ANTELO, Raul. “A apatia do povo brasileiro como sátira”. Entrevista realizada pela revista IHU,disponível em: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2020&secao=268
Acesso em 02 de setembro de 2010

1 Hugo Gamarra é diretor do filme El portón de los sueños, lançado em 1998. Filme que propõe apresentar vida e obra de Augusto Roa Bastos, tendo-o como narrador e personagem. O filme, que oscila entre o documentário e a ficção, apresenta a viagem física e ao mesmo tempo psicológica de Roa Bastos a Iturbe, sua cidade natal; desenvolve-se de maneira parasitária em relação ao texto literário de Roa Bastos, é permeado de referências, personagens, estórias e características freqüentes em seus contos e romances. Dialoga com uma de suas últimas narrativas, intitulada Contravida (1994), ambos têm como máxima a concepção de um tempo que avança em direção à origem, pois “recordar é retroceder, ‘desnascer’, enfiar a cabeça no útero materno, em contra-vida”. Hugo Gamarra é também diretor da Cinemateca paraguaia.
2 A relação de Roa Bastos com o cinema começa anos após seu primeiro exílio na Argentina. No ano de 1958 inicia seu trabalho como roteirista e mantém uma produção prolífica de roteiros pelo decorrer da década de 1960, um período fértil para o cinema ocidental, época da eclosão dos “novos cinemas”, que tiveram suas manifestações por muitos países e que na maioria dos países da América Latina não se mostraram isentos de um diálogo com o cinema soviético, a nouvelle vague francesa, o cinema noir estadunidense e o neorrealismo italiano. Seu último trabalho como roteirista data de 1974. Dois anos depois um golpe de estado depõe Isabel Perón dando início à ditadura. Roa Bastos deverá empreender um novo exílio rumo à França, abandonando então seu trabalho como roteirista.
3 Com a expressão refiro-me à preocupação por parte de alguns intelectuais nos anos vinte e posteriores que eram contra a inserção de elementos “extra cinematográficos” nos filmes, eles buscavam desenvolver uma suposta cinematografia despojada de estética alheia. Entre estes intelectuais, encabeçados por Canudo, se encontram Picasso, Stravinski, Cocteau e Apollinaire. Essa mesma preocupação associada ao banimento da literatura e do escritor no processo de criação fílmica, estará presente também no artigo de François Truffault intitulado “Uma certa tendência do cinema francês” de 1959, onde o diretor acusa muitos escritores-roteiristas de serem infiéis e incapazes de fazer cinema.
4 Disponivel em: http://blogs.ultimahora.com/post/346/35/roa-bastos-y-el-cine.html Último acesso: 02 de setembro de 2010
5 Conceito proposto por Noé Jitrik em conferência ditada no dia 29 de setembro de 2010 no I Simpósio Internacional de Literatura Argentina realizado na UFSC. A programação do evento bem como mais informações a respeito encontram-se no site: http://www.onetti.cce.ufsc.br/simposio/
6 A comparação com Godard não é gratuita, assim como o Godard de Historie(s) du cinéma, e também Guy Debord, o Gordo opta pela reciclagem de um arquivo já existente, feita através do corte e da repetição.
7 Lautaro Murúa nasceu no Chile em 1926 e faleceu em Madrid em 1995, além de diretor de cinema e ator, foi também diretor de teatro. Todo seu trabalho como cineasta foi realizado na Argentina.
8 É recorrente na literatura gauchesca argentina o tema da luta de facas entre os gaúchos, o perdedor geralmente ou morria ou saia com uma cicatriz no rosto como estigma da derrota.
9 Narra o Evangelho de São Mateus que Jesus, ao ir a Jerusalém, encontrava-se pregando a um grupo de fiéis quando foi abordado pelos anciões e sábios da cidade. Jesus contou-lhes uma parábola na qual um homem, pai de família, cultivou uma vinha, edificou uma torre e depois de arrendar sua vinha saiu do país. Quando chegou a época da colheita mandou alguns empregados para recolher sua parte dos lucros, mas os homens que ali estavam mataram os empregados; o homem mandou então um número maior de empregados que também foram mortos, por fim mandou seu filho. Não esperava que tivessem a ousadia de fazer algo a ele, porém ele foi assassinado.
10 A referência se encontra em Alias Gardelito na sequência posterior à sequência inicial do baldio, assim que se inicia a narração psicológica.
11 “Eso es lo que estoy tratando de decirle que hay ciertos seres ligados inexorablemente como si hubiera entre ellos un cordón umbilical y todo lo que sucede no sirve sino para juntarlos más porque el trozo de nervio placentario se va acortando y sólo la muerte o tal vez ni eso puede cortarlo” (ROA BASTOS, 2005, p. 103)
12 ANTELO, Raul. O intervalo da bioestética. Texto gentilmente cedido pelo autor.
13 Frase que segundo a narração de Roa Bastos em El portón de los sueños (1994) seria a epígrafe de seu livro Contravida. Fato que, no entanto, não se concretiza; não há epigrafe no livro.
14 Trecho do “Hino dos mortos” dos guaranis, epígrafe do livro Hijo de hombre (1960).