Viviane Maria Forstner Matozzo
Psicopedagoga e professora de Ensino Fundamental
Psicopedagoga e professora de Ensino Fundamental
A Literatura Infantil não tem uma origem definida, muitos afirmam que tenha surgido da literatura oral, outros dizem foi através de adaptações de obras de adultos. Ficamos em dúvida em afirmar qual a sua origem. Mas podemos definitivamente dizer que ambas as tendências contribuíram para a sua formação.
As transformações estavam ocorrendo no mundo, às famílias estavam vivendo em uma idade moderna, os gêneros literários começaram a se voltar para o homem. A decadência do feudalismo foi um fato marcante, e que contribui para a formação da Literatura Infantil.
No século XVIII tivemos uma visão voltada para a educação, mas não em uma educação para todos, a educação das famílias burguesas, pois até então apenas os burgueses tinham direito à educação. É justamente neste meio que se começa a sentir a necessidade da priorizar a educação infantil, de se dar ênfase à criança.
A burguesia é a patrocinadora da expansão da Literatura Infantil, com a valorização da infância, surgem os textos adaptados para a criança, os livros adultos tomam forma de livros infantis. Começa-se a formação de pequenos leitores, leituras essas muitas vezes impostas pelos pais ou professores. Pois era através da leitura que se poderia adquirir cultura e conhecer o mundo através da literatura. Esse mundo representado nos textos alargavam os horizontes da criança, se construía uma grande visão de mundo e uma nova perspectiva de vida, um olhar mais específico e detalhado do que realmente é ser criança, das suas necessidades.
Essa é uma das características atribuídas à Literatura Infantil, a de ter a função de aumentar o conhecimento de mundo da criança, mas uma criança burguesa que tinha condições sociais e morais para estar na escola. Pois o Brasil no século XVIII vivia em uma constante escravidão, onde apenas filhos de pais burgueses, que era a sociedade que detinha o poder na época, tinham direito de freqüentar as escolas, somente no final do século XIX é que os negros e pessoas de baixo nível social tiveram direito à educação, essa transformação veio acarretar em mais leitores, ou em um aumento razoável de leitores.
Surge, portanto, a necessidade da produção de obras que despertassem o interesse das crianças, que os fizesse sonhar, que prendesse a atenção, histórias que despertassem a imaginação. Surge então, uma nova literatura, uma baseada na realidade e no conhecimento de mundo da criança, trabalhada de acordo com a idade e com o interesse do pequeno leitor, levando em consideração a fantasia, a imaginação e o principal, a criança sendo vista como um todo, e que está em desenvolvimento cognitivo, psicológico e num processo de aprendizagem.
Um novo mundo imaginado surge, um mundo voltado para os interesses das crianças, mas não podemos descartar que é no adulto que a obra infantil vem despertar interesses, pois é ele que adquire e que faz a primeira leitura da obra. Em meio a este mundo transformado e adaptado surgiram obras traduzidas de todo o mundo, um ótimo exemplo são as histórias diversas histórias dos Irmãos Grimm, que fizeram sucesso em todo o mundo. Em termos de Brasil temos Monteiro Lobato, que é considerado por muitos críticos como pai da Literatura Infantil Brasileira, na qual com seus personagens como Narizinho e Pedrinho que nos levam a mais pura imaginação, viajando em muitos lugares, criando seres, e Nastácia a qual cria a boneca Emília que ao mesmo tempo em que tem vida, é imaginativa e crítica, que nos leva a refletir a muitas coisas.
Com relação a Lobato, que produzia obras com um cunho comercial, pois passava por uma grande crise econômica, nas suas obras infantis há, sem sombra de dúvidas, uma literatura para adultos, pois a literatura de Lobato é denunciadora, envolvendo política e temas sociais da época, um pré-modernista cheio de idéias políticas-econômicas, a sua principal obra O Sitio do Picapau Amarelo, tem os traços de um Lobato indignado com a exploração do petróleo, de onde surge o famoso Poço de Visconde, que por coincidência ficava ns terras de sua família, não podendo se expor criou personagens fantásticas, mágicas para dizerem o que ele não podia dizer. Um bom exemplo é Emília sua voz na obra, por isso a crítica presente como característica essencial da personagem.
Juntamente com Lobato os traços do folclore brasileiro começam a aparecer nas obras infantis. Não podemos esquecer-nos dos contos de fada que eram contados de adultos para adultos, foram adaptados pelos Irmãos Grimm.
Junto com a Literatura Infantil, surge à necessidade de estudar a criança, surgem obras de cunho psicológico, e do mundo exterior (Monteiro Lobato).
O aumento de leitores de Literatura Infantil aumentou a comercialização das obras, fazendo com que as características das obras infantis desapareçam, e se transformem obras meramente comerciais. Hoje em pleno século XXI é muito fácil adquirir obras infantis, mas a qualidade dessas obras, que muitas vezes então envolvendo temas do cotidiano das crianças acaba deixando a desejar. Hoje encontramos obras infantis falando de sexo, drogas, gravidez etc. E onde foi toda a magia da Literatura Infantil? A mágica dos personagens fantásticos dos Irmãos Grimm, ou até mesmo de Monteiro Lobato? Atualmente o que interessa para o mercado de obras infantis é a venda, e não a educação e aculturamento das crianças que foi com qual objetivo que as obras infantis surgiram, e não com a exploração comercial.