Viviane Maria Forstner Matozzo
Psicopedagoga e professora de Ensino Fundamental
Psicopedagoga e professora de Ensino Fundamental
A Literatura Infantil no Brasil iniciou-se na segunda metade do século XIX. As lendas eram recontadas por pessoas as quais conhecemos por “preto velho”, assim, carinhosamente chamados, são os nossos “contadores de histórias”. Há, também, as histórias do folclore gaúcho, como Negrinho do Pastoreiro, histórias européias como Contos da Carochinha.
Em 1921, inicia-se a Literatura Infantil no Brasil com a história: “Narizinho Arrebitado”, publicação de Monteiro Lobato, no que diz respeito à técnica literária é um dos mais completos autores da Literatura Infantil.
Monteiro Lobato criou um universo para a criança enriquecida pelo folclore, buscou o nacionalismo na ação das personagens que refletiam na brasilidade, na linguagem, comportamentos e na relação com a natureza. Um de seus personagens que representa o mesmo ideal dos contadores de história da antiguidade, por exemplo, Visconde de Sabugosa, que é o intelectual contador de histórias.
Em 1931, Narizinho Arrebitado muda para Reinações de Narizinho – dentro do universo do faz de conta, que Lobato criou. Nos anos 60 e 70 ocorre uma discussão em torno da Literatura Infantil, instituições se preocupam com a leitura e o livro infantil, como a (FNLIJ) – Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, apoiando e agilizando o envolvimento com a leitura.
Atualmente, as funções da Literatura Infantil no Brasil estendem-se para além da educação formalizada, formar e informar passa a ser o interesse de autores e obras.
Algumas transformações ocorridas no século XVIII, aliadas às questões educacionais, marcaram algumas acepções sociais voltadas à família, entre elas o namoro, que marca o início da liberdade entre os jovens, entra em cena, então, a figura do pai e da mãe, os quais deviam estar ligados à educação dos filhos, assim, recaia sobre a família a responsabilidade de fazer com que a criança chegasse à idade adulta sadia e com uma boa educação. É neste século que surge a educação para todos, priorizando, assim, a criança.
Com a valorização da criança surgem textos adaptados a elas, os livros adultos tomam forma de livros infantis. Começa-se a formação de pequenos leitores. Através da leitura literária se poderia adquirir cultura e conhecimento. Foi criado, então, um Tratado de Pedagogia, que assegurava a educação infantil e adulta, desta forma, a educação perde sua inocência e a escola a sua neutralidade.
Com isso, surge a necessidade de obras que despertassem o interesse das crianças, que lhe chamassem a atenção, na qual pudessem viajar e sonhar, baseadas no mundo do faz-de-contas. A literatura de Lobato cumpre muito bem este papel.
Além de chamar despertar o interesse da criança através do imaginário, Lobato conscientiza com a sua literatura denunciadora, que envolve fatos políticos-econômicos-sociais. A sua principal obra, “O Sítio do Picapau Amarelo”, tem traços de um Lobato indignado com a exploração do Petróleo, logo depois surge o livro “O Poço do Visconde”, que conta a história da descoberta do Petróleo nas terras do Sítio (mundo fictício), que eram terras de sua família. Não podendo se expor, criou as personagens fantásticas, as quais dizem tudo o que ele pensa sobre a descoberta, entre elas Emília, a qual representa a sua voz.
Sem dúvida, Monteiro Lobato criou uma obra diversificada, com personagens que unificam o universo ficcional. No Sítio do Picapau Amarelo, vivem Dona Benta, Tia Nastácia, Tio Barnabé (personagens adultos) que orientam as crianças (Pedrinho e Narizinho), bem como outras criaturas fantásticas que vivem no sítio, como: Emília, Visconde de Sabugosa, Quindim e Rabicó.
Lobato também valorizou o folclore nacional, Pedrinho e Narizinho viraram exploradores do universo ficcional, no qual encontram todos os seres fantásticos, o Saci, a Cuca, a Mula-sem-cabeça, a Iara, o Lobisomem, entre outros, que levam os leitores a compreenderem um pouco mais da cultura brasileira. O tempero maior de tudo isso é introduzido com as dúvidas e maluquices de Emilia, a boneca de pano, que, após tomar uma pílula que a fazia falar, virou uma grande tagarela.
A Literatura Infantil recebe esta denominação quando incorpora o sonho e a magia nas obras, o que Lobato faz com grande competência. No século XIX, principalmente, houve a preocupação em apresentar aos jovens textos considerados adequados à sua educação – foi reelaborado o acervo popular europeu – neste período destacam-se as histórias dos Irmãos Grimm. Assim, a renovação chegou à Literatura Infantil, a qual incorporou um pensamento progressista.
Atualmente, as obras infantis mudaram muito, muitas tratam de temas polêmicos, como aborto, drogas, sexualidade, mas aonde foi parar a magia e o sonho? Os personagens fantásticos são deixados de lado e seres normais tomam conta das páginas, que antes eram ocupadas pelo Saci e a Cuca, passando mensagens cheias de moral. Lobato e os Irmãos Grimm são trocados pelo lucro editorial, obras que são apenas para dar conta do consumismo e a comercialização, deixando de lado a cultura e imaginação das crianças, as tratando como adultos em miniatura.
Por isso devemos sair em defesa de um sítio onde tudo acontece, não há o que Dona Benta ignore e muito menos o que Tia Nastácia não faça, e muito menos lugar onde Pedrinho e Narizinho não tenham explorado. Neste sítio temos de tudo: fadas, duendes, anjos, almirantes ingleses e muitos outros personagens que mexem com a imaginação das crianças, e até mesmo dos adultos, pois podemos reviver a mitologia grega e demais épocas de nossa história.
Monteiro Lobato é, sem sombra de dúvidas, a pai da Literatura Infantil brasileira. Conhecido e famoso por escrever livros nos quais se pudesse morar, por isso criou o sítio. Foi um revolucionário progressista, fundador de inúmeras editoras, jamais deixando de lado os castelos de contos de fadas e o folclore nacional, (re)criando o mundo ao seu redor, a partir de coisas do seu cotidiano, desta forma escreveu mais de quatro mil e seiscentas páginas só de obras infantis.
Em suma, a obra literária para as crianças é a mesma obra de arte para o adulto. Difere apenas na complexidade de concepção, a obra para as crianças é, a princípio, mais simples em seus recursos, mas não menos valiosa. Assim como há obras literárias simples para adultos, e que são consideradas obras-primas. Essa simplicidade de concepção deve criar a simplicidade de linguagem, na qual a literatura deve ser uma fonte repleta de sensações, emoções, imaginações que tocam a criança a fazendo viajar e sonhar, cumprindo o verdadeiro papel da Literatura.