Bruno Sergio Scarpa Monteiro Guedes[1]
RESUMO
O
filme "Escritores da liberdade[2]"
aborda os temas racismo, violência e disputas étnicas no âmbito escolar como um
desafio a ser enfrentado pelos educadores e profissionais do campo da educação.
Busca-se neste artigo problematizar os sentidos produzido no filme com o
contexto das escolas brasileiras atualmente.
Palavras-chave:
Educação; diversidade cultural; racismo; formação docente.
ABSTRACT
The film " Freedom Writers " addresses the
topics racism , violence and ethnic disputes in schools as a challenge to be
faced by educators and education field professionals. This article seeks to
discuss the senses produced the film of the context of Brazilian schools today.
Keywords: Education ; cultural diversity; racism; teacher
training
Considerações iniciais
O
desafio lançado à professora “Erin Gruwell”, interpretada pela atriz Hillary
Swank, é lecionar Língua Inglesa e Literatura para uma turma de alunos
desmotivados, desprezados (no sentido de não terem pela instituição de ensino a
atenção necessária) e que vivem em
constantes conflitos étnicos, devido a heterogeneidade na composição da
referida classe. Conflitos estes, que são permeados de violência física e
verbal, por atitudes discriminatórias e preconceituosas uns com os outros.
A
busca pelo respeito, confiança e motivação dos educandos, foi justamente sair do modelo engessado que a
escola preconizava, onde a professora conseguiu através de atividades
interacionistas, instigantes e reflexivas despertar nos alunos o gosto pela aprendizagem
e principalmente, discutir questões étnico-raciais a partir de uma visão
crítica e esclarecedora.
Acredito
que o racismo independentemente de local ou tempo possui resultados nefastos
entre os cidadãos das diferentes nacionalidades, contribuindo negativamente
para a edificação de estereótipos, além da construção das relações de poder e privilégios nas
respectivas sociedades.
NOSSO OLHAR
“Quando eu tiver que defender um aluno no tribunal a batalha está perdida, a batalha deve começar na sala de aula.” (Senhora G).
O
filme “Escritores da Liberdade”, relata a história da professora, Erin Gruwell
representada pela atriz Hilary Swank, que aceita o
desafio de lecionar Literatura e Língua Inglesa para uma turma de alunos do
ensino médio intitulados como “problemáticos”, que vivem em constante conflitos
étnicos e culturais entre si no âmbito escolar. Na realidade, os educandos são
observados pela gestão educacional da instituição de ensino, como
desacreditados e que os mesmos não mereceriam nenhum esforço, por parte dos
professores e da administração escolar para reverter essa situação degradante.
O
ambiente escolar apresentado no filme caracteriza-se por atitudes
discriminatórias, racistas e preconceituosas entre os alunos, onde a violência
física e verbal em sala de aula acontecem rotineiramente. Vale ressaltar que a
turma assumida pela professora, turma 203, possuía uma heterogeneidade na
composição da classe o que fomentava as estigmatizações uns com os outros.
Conforme
aponta Stuart Hall, o racismo possui divisões e estruturas de conhecimento e
representações que são utilizadas como
um sistema de defesa á quem os pratica. Para o sociólogo, o racismo:
É uma maneira de demarcar como nossas histórias de fato se entrelaçam e se interpenetram profundamente; como é necessário “ o Outro” para nosso próprio senso de identidade; como até o poder dominante, colonizador, imperialista só sabe quem e o que é e só pode sentir o prazer do seu poder de dominação na e através da construção do Outro. Os dois são os dois lados da mesma moeda. E o Outro não está lá fora de nós, mas aqui dentro de nós. Não está fora, mas dentro (HALL, 2009, p. 22).
A
professora Erin ao perceber a resistência dos alunos em se interessarem pelas
lições apresentadas em sala de aula, passa a ter uma iniciativa inovadora e
significativa para lhe dar com essa adversidade. Sendo assim, a mesma inclui
nas atividades em sala de aula, a leitura do livro “O Diário de Anne Frank”
para que os alunos pudessem realizar uma contextualização dos seus problemas
diários com os das pessoas que vivenciaram o triste episódio do holocausto.
Além disso, foram custeados pela educadora livros que pudessem elevar a
auto-estima dos educandos e também que aguçassem o senso crítico dos mesmos. Passeios e
visitas aos museus foram resgatando aos poucos o gosto pelo estudo, assim como,
estreitava o laço de confiança e respeito entre professora e alunos e de alunos
entre si.
Para
cada aluno foi oferecido um diário para que os mesmos pudessem expor seus
sonhos, angústias, indagações e observações, enfim, o diário tinha o objetivo
de que os discentes expressassem suas experiências de vida e pudessem oferecer
a professora e aos demais alunos, laços de afetividade e de reconhecimento da
história de vida uns dos outros.
Segundo
Nilma Lilo Gomes (2005), a construção coletiva do respeito mútuo entre
educadores, alunos e comunidade, parte da conscientização de que a escola
exista para atender as demandas exigidas pela sociedade no qual está inserida e
desta forma criar estratégias para abordar a temática do racismo e das
diversidades étnico - cultural, racial e social. Sendo assim:
Para que a escola consiga avançar na relação entre saberes escolares/ realidade social/diversidade étnico-cultural é preciso que os(as) educadores(as) compreendam que o processo educacional também é formado por dimensões como a ética, as diferentes identidades, a diversidade, a sexualidade, a cultura, as relações raciais, entre outras. E trabalhar com essas dimensões não significa transformá-las em conteúdos escolares ou temas transversais, mas ter a sensibilidade para perceber como esses processos constituintes da nossa formação humana se manifestam na nossa vida e no próprio cotidiano escolar. (GOMES, 2005, p.147).
A partir do posicionamento da professora
Erin, que posteriormente passou a ser
chamada de senhora G pelos alunos, foi possível conseguir edificar relações
afetivas com os educandos, assim como, questionar os estereótipos e
preconceitos surgidos em sala de aula. Porém, ao contextualizarmos com a
realidade das escolas brasileiras,
outros tantos educadores demonstram não possuir nenhum tipo de preparo
ou direcionamento pedagógico, para lhe dar com a questão das relações étnico-raciais
e da diversidade cultural composta pela sociedade brasileira na rotina escolar.
Então, o que se observa no convívio dos alunos diariamente, são ofensas,
apelidos desmoralizantes e ofensivos que conduzem á quem recebe as referidas
denominações inferiorizantes, á sentir-se minimizado e em muitas situações
contrapor com insultos e atos de violência. Diante da realidade apresentada por
grande parte dos educadores brasileiros, Munanga (2005), faz a seguinte
ressalva:
Na maioria dos casos, praticam a política de avestruz ou sentem pena dos “coitadinhos”, em vez de uma atitude responsável que consistiria, por um lado, em mostrar que a diversidade não constitui um fator de superioridade e inferioridade entre os grupos humanos, mas sim, ao contrário, um fator de complementaridade e de enriquecimento da humanidade em geral; e por outro lado, em ajudar o aluno discriminado para que ele possa assumir com orgulho e dignidade os atributos de sua diferença, sobretudo quando esta foi negativamente introjetada em detrimento de sua própria natureza humana. (MUNANGA, 2005, p.15)
Ao vislumbrar a possibilidade de realizar a
diferença na vida dos seus respectivos alunos, a professora Erin passou a
realizar as problematizações com uma postura crítica aos insultos proferidos
entre os discentes em sala de aula. Seus direcionamentos caminharam rumo á
desconstrução de atitudes vexatórias e racistas. Para isso, Erin utilizou-se de atividades que provocassem nos
educandos um “ real significado “ para sua vidas, onde os mesmos foram
conduzidos e estimulados a praticarem leitura de obras literárias que
despertassem reflexões á cerca de suas respectivas histórias.
Acreditando que a educação pudesse realizar
uma transformação significativa na vida de cada aluno que compunha a classe
203, Senhora G, possibilita-os a refletirem e questionarem as práticas
racistas, que são causas concretas da postura violenta e
discriminatória entre
os alunos no âmbito escolar. Portanto, os insultos praticados em relação aos
negros (as), ou mesmo da desvalorização do ser humano devido a sua cultura ou
condição social, são considerados pela Senhora G como injustificáveis. Munanga
(2005), realiza a seguinte consideração em relação ao posicionamento dos
educadores frente á essas situações
desafiadoras em sala de aula:
...” cremos que a educação é capaz de oferecer tanto aos jovens como aos adultos a possibilidade de questionar e desconstruir os mitos de superioridade e inferioridade entre grupos humanos que foram introjetados neles pela cultura racista na qual foram socializados. Apesar da complexidade da luta contra o racismo, que conseqüentemente exige várias frentes de batalhas, não temos dúvida de que a transformação de nossas cabeças de professores é uma tarefa preliminar importantíssima”. (MUNANGA, 2005, p.17).
Talvez
não seja tão complicado em entender que atos de violência ocorram com certa
frequência dentro das escolas, principalmente quando as vítimas são negros
(as). Se o profissional da educação mascara as práticas racistas atuantes no
âmbito escolar, seja sendo submisso aos insultos ou até mesmo silenciando - se
perante as situações vexatórias, tais posturas alimentam o discurso dos
agressores, quando tal silenciamento é entendido por ambos, agressor e
agredido, como a confirmação, ou melhor, a corroboração do discurso pronunciado.
O que
veremos no cotidiano da escola e consequentemente se expandindo á
sociedade, serão cidadãos negros(as) negando suas origens e
matrizes e inclinando-se a posturas e conceitos valorizados na cultura
dominante, a cultura do branco, colonizador e europeu.
Antônio
Olímpio de Sant’ Ana (2005), esclarece que a tal branquitude, deriva-se de uma
inquietação da comunidade negra com o seu passado, suas angústias e sofrimentos
em ter na cor da pele o determinante de sua concepção de cultura. Cultura no
qual é narrada com uma carga negativa de estereótipos, ocultações e desprezo.
Sendo assim para o autor:
“Na história do homem ele desenvolveu vários mitos: sobre nobres e plebeus, inferiores e superiores, sangue nobre, sangue bom, raça pura, mas nenhum supera o caráter emocional da cor negra. É a cor negra que define a visão cultural de raça. Não há dúvida, é a partir da cor da pele – que é o sinal mais visível – que aquele ou aquela que discrimina identifica a sua vítima. Exatamente por causa do tremendo incômodo que muitos negros e negras sentem por causa da cor de sua pele é que se desenvolveu no interior de muitos negros e negras a branquitude...” (SANT’ ANA, 2005, p.59-60).
Ana Célia Silva (2005) corrobora com
Antonio Olimpio e diz:
A invisibilidade e o recalque dos valores históricos e culturais de um povo, bem como a inferiorização dos seus atributos adscritivos, através de estereótipos, conduz esse povo, na maioria das vezes, a desenvolver comportamentos de auto-rejeição, resultando em rejeição e negação dos seus valores culturais e em preferência pela estética e valores culturais dos grupos sociais valorizados nas representações. (SILVA, 2005, p, 22).
Partindo
dessa hipótese, o negro (a) ou qualquer outro grupo ou classe social se inclinará
a absorver os valores e dogmas da cultura tida como “superior”, com o intuito
de escaparem das estigmatizações e marcas que são colocadas pelas culturas
dominantes aos que se diferem de suas características, sejam essas diferenças
étnicas, sociais, culturais e econômicas. Essa fuga, conforme aponta Fanon, se
torna um meio de amenizar as relações de convivência entre colonizador e
colonizado. Portanto segundo o autor:
“Todo povo colonizado — isto é, todo povo no seio do qual nasceu um complexo de inferioridade devido ao sepultamento de sua originalidade cultural — toma posição diante da linguagem da nação civilizadora, isto é, da cultura metropolitana ... Quanto mais assimilar os valores culturais da metrópole, mais o colonizado escapará da sua selva. Quanto mais ele rejeitar sua negridão, seu mato, mais branco será”(FANON, 2008. p.34)
Senhora G partindo de uma atitude
corajosa e problematizadora, realiza atividades em que os alunos da turma 203
possuam uma maior interação entre si, e que respectivamente pudessem criar
laços de afetividade. Portanto a professora interroga-os de onde são, quais
gêneros musicais gostavam, se os mesmos possuíssem acesso á drogas, entre
outras perguntas que conduziam os educandos a perceberem semelhanças e concordâncias
em suas histórias. Essa atitude da professora Erin permitiu aos alunos a
questionarem suas respectivas atitudes que possuíam uns com os outros, pois
apesar de compartilharem da mesma sala
de aula esse motivo não era necessário para que se relacionassem e mantivessem
um convívio social interativo e respeitoso.
Ao verificar que a escola onde lecionava
não conseguiria promover uma mudança significativa na vida dos alunos, a
senhora G vislumbrou nas problematizações
das questões identitárias e de alteridade, a possibilidade de transformação que pudesse
orientá-los sobre as diversidades étnicas, culturais e sociais presentes na
escola e na sociedade em que conviviam. Diversidade que precisava ser
compreendida como questão natural de socialização entre os cidadãos, e
principalmente respeitando-se as diferenças apresentadas por cada aluno. Nilma
Gomes realiza a seguinte ponderação em relação ao papel da escola nas questões étnico-raciais:
Não faz sentido que a escola, uma instituição que trabalha com os delicados processos da formação humana, dentre os quais se insere a diversidade étnico-racial, continue dando uma ênfase desproporcional à aquisição dos saberes e conteúdos escolares e se esquecendo de que o humano não se constitui apenas de intelecto, mas também de diferenças, identidades, emoções, representações, valores, títulos... (GOMES, 2005, p. 154).
Ao trazermos para a discussão o
intelectual Ivanir Augusto (2013), poderemos perceber claramente o racismo institucional presente
na escola apresentada no filme. São situações provocadas pela administração
escolar, direcionados aos alunos, em que os desestimula a permanecerem até o
final de cada ano letivo. Percebe-se que os alunos não possuem acesso a
biblioteca, pois os mesmos são vistos com pouca capacidade intelectual e não
teriam tanto interesse a leitura, e até mesmo por serem considerados
indisciplinados poderiam danificar os livros presentes na biblioteca. Não havia
nenhuma mobilização pelo corpo docente e também pela gestão escolar em promover
ações transformadoras para estimularem a permanência dos alunos em sala de
aula, a instituição de ensino não proporcionava um maior entendimento da
realidade social dos discentes na tentativa de buscar soluções e
encaminhamentos para suas respectivas vidas dentro e fora da escola. Diante
deste impasse o questionamento que nos surge é se a desistência dos alunos em
permanecerem e de concluírem seus estudos, está intimamente ligado ao fato da
escola os tratarem com diferença, não estimulando-os e não integrando-os ao
processo de ensino-aprendizagem. Ou seja, é o aluno que desiste da escola ou a
escola que desiste muito antes destes (as) meninos (as) ?
Ivair
Augusto Alves dos Santos (2013), nos alerta que essa metodologia de tratamento
com os que não são vistos com “ bons olhos” no ambiente escolar, seja por causa
de sua etnia, condição social ou até mesmo por suas escolhas religiosas e
culturais, trata-se do racismo institucional. Para o mesmo:
O racismo institucional é revelado através de mecanismos e estratégias presentes nas instituições públicas, explícitos ou não, que dificultam a presença dos negros nesses espaços. O acesso é dificultado, não por normas e regras escritas e visíveis, mas por obstáculos formais presentes nas relações sociais que se reproduzem nos espaços institucionais e públicos...É no funcionamento da sociedade que o racismo se revela como uma propriedade estrutural inscrita nos mecanismos rotineiros, assegurando a dominação e a inferiorização dos negros, sem que haja necessidade de teorizar ou de tentar justificá-las pela ciência (SANTOS, 2013, p. 27-28).
Mesmo a gestão escolar não dizendo
abertamente que os alunos da classe 203 não eram bem-vindos ali, suas propostas
pedagógicas com os mesmos indicavam que o caminho traçado para cada um deles
seria o portão de saída da escola, junto as gangues, ao tráfico de drogas, em
outras linhas, o caminho destinado á esses jovens seriam a
marginalização social.
Talvez alguns professores não consigam
identificar a dimensão e a importância de sua tarefa como educadores. A
limitação do ensinar os conteúdos escolares previstos no cronograma das
respectivas disciplinas pode ser entendido por muitos docentes como a
idealização de um trabalho bem feito. Mas será que os alunos precisariam
somente do ensino/conteúdo para progredirem e desenvolverem sua capacidade
intelectual e crítica na escola e fora dela?
O que precisa ficar bem evidenciado é que
escola e comunidade precisam ser observadas de forma integrada, na medida em que ambas se influenciem positivamente e
que a escola possa contribuir não só ao
desenvolvimento intelecto do aluno, mas que também proporcione reflexões a
cerca de sua realidade social, das questões étnico-raciais e que contribuam
significativamente para o convívio dentro e fora da instituição de ensino.
O professor ao presenciar no âmbito escolar
situações em que é colocado em xeque a dignidade e o respeito entre os alunos,
sejam através de xingamentos, apelidos desmoralizantes, injúrias, práticas
discriminatórias e racistas, é primordial que se encare tais problematizações
como pertencentes as suas ações como educadores. Por quantas vezes nos
deparamos com professores que acreditam que tais questionamentos e debates são
de incumbência de movimentos exteriores á escola e precisam ser discutidos por
militantes, pela política, ou seja, isentando-se, porque não dizer
silenciando-se das intervenções necessárias quando o assunto é florescido entre
os muros da escola. Portanto, conforme aponta Eliane Cavalleiro (2005) é
preciso um posicionamento ativo e não silenciador á esses questões desafiadoras
do cotidiano escolar. Segundo a educadora:
O silêncio sobre o racismo, o preconceito e a discriminação raciais nas diversas instituições educacionais contribui para que as diferenças de fenótipo entre negros e brancos sejam entendidas como desigualdades naturais. Mais do que isso, reproduzem ou constroem os negros como sinônimos de seres inferiores ... Portanto, como professores(as) ou cidadãos(ãs) comuns, não podemos mais nos silenciar diante do crime de racismo no cotidiano escolar, em especial se desejamos realmente ser considerados educadores e ser sujeitos de nossa própria história (CAVALLEIRO, 2005, p. 11-12)
Quando Fanon (2008) aponta o mal estar vivido
pela comunidade negra diante do discurso hegemônico, principalmente quando suas
origens e matrizes são forjadas e associadas, pelo homem branco, colonizador e
europeu, á estigmatizações e subalternidades que denigrem sua
identidade, é de suma importância que se realize questionamentos e
posicionamentos críticos , na tarefa de educadores, perante tais construções.
No âmbito escolar o discurso da classe dominante se faz presente a todo
momento, sejam nos estereótipos destinados aos negros (as) nos livros
didáticos, onde o (a) negro (a) aparece associado á escravidão, situações de
vulnerabilidade social, sem família e sem prestigio. Fora da escola por
intermédios da mídia (novela, jornais, seriados, entre outros canais de
comunicação), que criam sistemas de hierarquização social e
destinam aos negros (as) o “papel sujo” a ser realizado, ou seja, de
subserviência, do marginalizado, do analfabeto, enfim, destinam determinadas
funções que reafirmam o lugar social no qual o (a) negro (a) precisa estar
inserido e ocupando. Para Fanon:
Aos olhos do branco, o negro não tem resistência ontológica. De um dia para o outro, os pretos tiveram de se situar diante de dois sistemas de referência. Sua metafísica ou, menos pretenciosamente, seus costumes e instâncias de referência foram abolidos porque estavam em contradição com uma civilização que não conheciam e que lhes foi imposta....Depois tivemos de enfrentar o olhar branco. Um peso inusitado nos oprimiu. O mundo verdadeiro invadia o nosso pedaço. No mundo branco, o homem de cor encontra dificuldades na elaboração de seu esquema corporal. O conhecimento do corpo é unicamente uma atividade de negação. É um conhecimento em terceira pessoa. Em torno do corpo reina uma atmosfera densa de incertezas. (FANON, 2008, p.104).
Ao verificarmos a postura crítica e
esclarecedora da professora Erin diante das situações desafiadoras surgidas em
sua prática docente por intermédio das contextualizações e problematizações das
questões étnico-raciais em sala de aula, percebe-se um comprometimento da
educadora que caminha rumo á concepção que a escola, seja um
espaço privilegiado para a construção de
conceitos e valores, em que se privilegiem o exercício da cidadania e da
democracia. Observa-se na senhora G, que suas práticas são permeadas de
atitudes em que visam o respeito entre os alunos, onde toda e qualquer forma de
repúdio e discriminação são combatidos com informação, esclarecimentos e
reflexões.
Ao trazermos os encaminhamentos e
direcionamentos do filme á realidade das escolas brasileiras, hipoteticamente
poderíamos acreditar que a prática docente apresentada pela professora Erin, ou
senhora G, contribuiria de maneira significativa ao combate do racismo dentro
das escolas. Mas será que somente a prática docente resolveria os problemas das
questões étnico-raciais?
Talvez precisa-se haver um maior
engajamento da gestão escolar em criar subsídios aos docentes e os educandos na
criação de um espaço social democrático e participativo, onde os materiais
pedagógicos apresentados aos alunos pudessem abarcar com maior criticidade a
figura representativa da comunidade negra nos livros. Não estou querendo que a
história da escravidão não seja narrada, ou que as questões de vulnerabilidade
social, na qual grande parte da população negra está inserida, seja silenciada,
senão estaria cometendo o erro no qual veio questionando desde o início deste
trabalho, o silenciamento dos fatos. O que pretendo são os seguintes
questionamentos: Será que a comunidade negra se limita a história da escravidão
e de questões relativas á marginalização social? Quem narram suas histórias? De
onde falam?
Acredito que os currículos escolares e
os livros didáticos precisam contemplar a diversidade étnico-racial e que
contribuam para desconstruir ideologias estigmatizadoras que corrompem e
marginalizam a cultura e história de vida do outro no ambiente escolar. Outro
que por muitas vezes é associado a imagem e identidade da comunidade negra.
REFERÊNCIAS
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Paulo: Selo Negro, 2001.
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MUNANGA, Kabengele (Org.) Superando o racismo na escola. Brasília: MEC, 2005.
SILVA,
Ana Célia da. A Desconstrução da
Discriminação no Livro Didático. In:
MUNANGA, Kabengele (Org.) Superando o racismo na escola. Brasília: MEC, 2005.
[1] Mestrando em Relações
étnico-raciais pelo CEFET/RJ no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Relações Étnico-Raciais (PPRER); Especialização no programa de Pós-Graduação
Lato Sensu em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância pela
Universidade Federal Fluminense; e graduado em História pelo Centro
Universitário Abeu (Uniabeu)
[2]
Escritores da liberdade: Filme
norte americano lançado em 2007. Direção de Richard
LaGravenese e produção de Danny DeVito, Michael Shamberg e Stacey Sher. O filme
é baseado em fatos reais.